Folha de S. Paulo


Petrobras e bancos guiam Bolsa ao maior nível em mais de um mês

Paulo Whitaker/Reuters
Investidores olham painel de cotações das ações na Bolsa brasileira
Investidores olham painel de cotações das ações na Bolsa brasileira

O maior apetite ao risco entre os investidores no exterior ampliou a procura por ações e ajudou o principal índice da Bolsa brasileira a fechar esta quarta-feira (16) em alta pelo terceiro dia, na mais alta pontuação em mais de um mês. O avanço das ações de Petrobras, Ambev e bancos também amparou o bom desempenho na sessão.

O Ibovespa subiu 2,51%, para 48.553 pontos –maior nível desde 11 de agosto, quando fechou em 49.072 pontos. O volume financeiro ficou em torno de R$ 8,3 bilhões, acima da média diária do mês, de cerca de R$ 6,9 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa.

A cifra foi impulsionada nesta quarta-feira pelo vencimento de opções sobre Ibovespa (quando se encerra o prazo de contratos que apostam na pontuação futura do principal índice do mercado acionário local), que girou R$ 153,14 milhões.

No exterior, as Bolsas de Nova York (EUA) subiram entre 0,59% e 0,87%, enquanto os principais índices acionários europeus tiveram valorizações de mais de 1% no dia. O ânimo foi motivado pela alta nos preços das commodities (matérias-primas), com expectativa de novos estímulos do governo chinês para conter o desaquecimento da segunda maior economia do mundo.

As ações preferenciais, mais negociadas e sem direito a voto, da Petrobras subiram 6,41%, para R$ 8,14 cada uma. Já as ordinárias, com direito a voto, ganharam 8,59%, a R$ 9,48. O movimento refletiu, segundo analistas, a disparada de mais de 4% nos preços do petróleo no exterior.

A mineradora Vale e a fabricante de bebidas Ambev subiram mais de 1% cada uma, ajudando a sustentar o ganho do Ibovespa. A primeira se beneficiou do aumento nos preços do minério de ferro na China, enquanto a segunda subiu na esteira da notícia de que sua controladora Anheuser-Busch InBev pretende fazer uma oferta para adquirir a rival britânica SABMiller.

Já os bancos repercutiram positivamente a notícia de que o Senado aprovou na terça-feira (15) a medida provisória 675, que eleva a alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) de instituições financeiras de 15% para 20% até 2019.

O Itaú subiu 2,55%, para R$ 28,99, enquanto o Banco do Brasil teve alta de 2,99%, a R$ 18,23. Já a ação preferencial do Bradesco valorizou-se 3,73%, para R$ 24,74. O Santander Brasil ganhou 2,74%, a R$ 14,60.

Para Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, a baixa desses papéis nas últimas semanas, diante do cenário político e econômico conturbado no país, abriu espaço para uma correção. "O mercado costuma sempre exagerar um pouco os movimentos [antecipando anúncios e acontecimentos] e, quando vêm as confirmações, os preços acabam corrigindo essa distorção", disse.

Apesar do bom humor nas Bolsas globais, os investidores seguem cautelosos com a decisão de política monetária do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), na quinta-feira (17). Parte dos economistas enxerga possibilidade de aumento do juro básico naquele país, o que retiraria investimentos do Brasil, apesar de a maioria esperar aperto monetário apenas em dezembro ou início de 2016.

"As apostas de manutenção do juro refletem sinais claros de desaquecimento da economia da China, a queda recente nos preços das commodities e a valorização acumulada do dólar sobre as demais moedas globais nos últimos meses", afirmou Figueredo.

Pesquisa da agência internacional de notícias Bloomberg com 113 economistas revelou que 54 esperam que o aperto monetário nos EUA comece já nesta semana. Os demais apostam na manutenção do juro em seu atual patamar, entre zero e 0,25% ao ano.

Internamente, seguem as preocupações com o quadro fiscal do Brasil. As medidas de corte de gastos e elevação de impostos propostas pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) no início da semana devem enfrentar dificuldades para serem aprovadas no Congresso, na avaliação do mercado.

Caso tais medidas não sejam aprovadas, o país deve perder o selo de bom pagador conferido por outras agências de risco além da Standard & Poor's, que rebaixou a nota de crédito do Brasil na semana passada para grau especulativo.

DÓLAR EM BAIXA

O maior apetite ao risco entre os investidores reduziu a demanda por dólares, aliviando a pressão sobre o câmbio. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia com desvalorização de 1,03%, para R$ 3,825 na venda. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, cedeu 0,69%, para R$ 3,835.

Apesar do alívio momentâneo, operadores disseram que a tendência segue de alta para a moeda americana, principalmente se o Brasil perder o selo de bom pagador conferido pelas agências de classificação de risco Moody's ou Fitch, o que forçaria a retirada de investimentos do país por parte de grandes fundos estrangeiros.

Além disso, uma elevação dos juros nos Estados Unidos ainda em 2015 também tenderia a retirar aplicações do Brasil, uma vez que os títulos do Tesouro americano, considerados de baixíssimo risco, ficariam mais atraentes aos investidores, segundo os operadores.

O Banco Central do Brasil se mantém vigilante ao movimento do dólar, atuando pontualmente para conter a volatilidade da moeda americana. Nesta quarta-feira, a autoridade monetária realizou apenas o leilão para estender o prazo de contratos de swaps cambiais que vencem no próximo mês. A operação equivale a uma venda futura de dólar.


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