Folha de S. Paulo


Presidente do Conselho da Petrobras pede licença até 30 de novembro

Sergio Moraes/Reuters
Murilo Ferreira, the chief executive of Brazilian miner Vale, smiles during an interview with Reuters in Rio de Janeiro February 10, 2015. Ferreira said on Tuesday that a possible initial public offer of part of its nickel division was off the cards for now due to low prices for the commodity, but that other asset sales could be expected over the coming year. To match Interview VALE SA-CEO/ REUTERS/Sergio Moraes (BRAZIL - Tags: ENERGY BUSINESS) ORG XMIT: SMS02
Murilo Ferreira, presidente-executivo da Vale e presidente do conselho da Petrobras, do qual tirou licença

O presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Murilo Ferreira, comunicou nesta segunda-feira (14) pedido de licença do colegiado até 30 de novembro de 2015, segundo comunicado da estatal.

O objetivo é concentrar energias no cargo de presidente-executivo da mineradora Vale, que continuará ocupando normalmente, disse uma fonte da Petrobras à agência de notícias Reuters.

A Petrobras não deu detalhes sobre o motivo do afastamento.

"O problema deles (Vale) é que eles são muito concentrados na China. A situação deles é complicada porque a Vale concentra em um produto só (minério de ferro), não é fácil", disse a fonte da Petrobras, sob condição de anonimato, ao comentar a licença de Ferreira.

As cotações do minério de ferro —vendido principalmente à China— tocaram em julho o menor valor em 10 anos, pressionadas por uma desaceleração na demanda no país asiático e por uma grande oferta das grandes mineradoras globais.

GIGANTE ENTORPECIDO
Números da Petrobras
Petrobras
US$ 130 bi são os investimentos previstos no plano mais recente para o período 2014-2019
US$ 25 bi são os investimentos anuais previstos pela estatal
US$ 17 bi é a geração de caixa anual segundo relatório do banco Credit Suisse
US$ 7 bilhões são os juros devidos por ano segundo o Credit Suisse
US$ 12 bilhões são os cortes previstos em custos operacionais, incluindo demissões
US$ 10,6 bi foram emprestados por bancos, durante a gestão Aldemir Bendine
US$ 56 bilhões é o total da dívida da estatal em títulos vendidos a investidores no mercado global
até US$ 10 bi é a necessidade de recursos da estatal para fechar as contas em 2016, segundo bancos de investimento
R$ 0,53 bilhão foi o lucro da empresa no segundo trimestre de 2015, segundo o balanço, uma queda de 89% em relação ao 2º tri de 2014. A receita foi de R$ 79,94 bi
R$ 323,91 bi é a dívida líquida segundo o balanço
R$ 18,33 bi foram os investimentos no 2º tri deste ano, segundo o balanço da empresa

A Vale confirmou o pedido de licença no Conselho da Petrobras e disse que a decisão foi tomada por "razões pessoais", sem maiores detalhes.

Ferreira foi eleito para a presidência do conselho da Petrobras no dia 29 de abril, em uma estratégia do governo para profissionalizar a gestão da estatal —antes, o colegiado era presidido pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O pedido de licença ocorre em meio ao agravamento da crise da petroleira com a Operação Lava Jato, agravada com a perda do grau de investimento que havia sido concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor's. A Petrobras já havia perdido o grau de investimento da agência Moody's.

Sem o selo de bom pagador das duas agências, a empresa tem ampliada a sua dificuldade em conseguir empréstimos, para os quais passam a ser cobrados juros mais altos.

Oficialmente a empresa diz que com captações recentes sanou sua necessidade de recursos em 2015 e 2016.

Extraoficialmente admite, no entanto, que pode ter que voltar ao mercado em meados de 2016 para compensar os efeitos da alta do câmbio e da queda do preço do petróleo em seu caixa.

As incertezas sobre o futuro do governo Dilma levaram o dólar a subir 25% desde o fim de junho. Na sexta-feira (11), a moeda americana fechou a R$ 3,88. Já o petróleo estava a US$ 48,14, mas bateu US$ 42 no fim de agosto.

REFLEXO DO REBAIXAMENTO - Ações da Petrobras recuam após perda de grau de investimento

CONSELHEIRO FOI CONTRA VENDA DE DISTRIBUIDORA

Cerca de um mês atrás, o Conselho da Petrobras aprovou a venda de ao menos 25% da BR Distribuidora, unidade de distribuição combustíveis da estatal, mas Murilo Ferreira foi um dos dois votos contrários, junto com o representante dos funcionários da estatal.

A Petrobras quer vender 15,1 bilhões de dólares em ativos até o final de 2016 para ajudar a reduzir o montante de US$ 132 bilhões de dívida, a maior de qualquer petroleira.

Segundo a fonte da estatal, o ambiente entre os membros do Conselho é "harmônico", mesmo com divergências sobre uma oferta pública de ações (IPO) da BR Distribuidora.

"A licença do Murilo não tem nada a ver com a questão da BR. Tem a ver com o foco na Vale nesse momento. A posição dele sobre a BR, as contingências, até levaram para outra solução que foi não fazer o IPO agora", disse a fonte, destacando que a posição de Ferreira foi acertada, uma vez que não há atualmente condições de mercado para uma venda satisfatória de fatia da subsidiária.

REVISÃO DO PLANO DE NEGÓCIOS

Com as recentes captações, a estatal não precisa de dinheiro agora, mas seu negócio não se sustenta.

Conforme relatório do Credit Suisse, na atual conjuntura, a empresa gera US$ 17 bilhões de caixa por ano, o que é insuficiente para custear US$ 25 bilhões em investimentos anuais e ainda pagar US$ 7 bilhões em juros de dívida.

Em sua última reunião, os conselheiros já estavam convencidos de que o plano de negócios, lançado há pouco mais de dois meses, "caducou". Eles pediram à diretoria um relatório de quais projetos seguem viáveis com o petróleo perto de US$ 40 por barril.

O plano de negócios 2015-2019 havia sido considerado um "choque de realismo" ao reduzir em 40% os investimentos previstos de US$ 221 bilhões para US$ 130 bilhões.

Os analistas avaliam que as contas não fecham e que a empresa precisa pensar em novos cortes.


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