Folha de S. Paulo


Eventual aumento de juros nos EUA pode fazer BC elevar atuação no câmbio

O eventual aumento de juros nos EUA, uma semana após a agência S&P rebaixar a nota de crédito do Brasil, deve levar o Banco Central a reforçar sua atuação no câmbio.

A alta dos juros americanos deve atrair para os EUA uma grande quantidade de recursos hoje investidos em outros países. Com isso, haverá pressão tanto para a valorização do dólar quanto para a elevação das taxas de juros nesses países.

O Banco Central brasileiro, no entanto, não tem espaço para elevar ainda mais a taxa básica de juros (Selic), já que isso deprimiria ainda mais a atividade econômica. Por isso, para conter a disparada do dólar, tem optado por ofertar a moeda americana, em diferentes tipos de contrato.

Taxa básica de juros (Selic)

MOMENTO INCERTO

O QUE O FED TEM A VER COMIGO?
Como as decisões do banco central americano afetam os brasileiros
Dolares
1. Por que os EUA podem elevar os juros?
Porque a economia americana está se aquecendo e isso pode trazer inflação
2. Como os juros nos EUA afetam outros países?
Títulos do Tesouro americano são considerados a aplicação mais segura do mundo. Se seus juros sobem, atraem investidores, que retiram recursos de outros países
3. Qual o impacto para o Brasil da migração de investimentos para os EUA?
A maior procura por dólares faz subir a cotação da moeda americana. Se o país precisar de recursos externos, terá também que oferecer taxas maiores de juros
4. O Banco Central pode conter a alta do dólar?
O BC tem reafirmado que o câmbio no Brasil é flutuante e, portanto, deve admitir altas na cotação. Quando há variações bruscas, ele tem optado por oferecer contratos que protegem quem tem suas atividades afetadas pelo preço do dólar —por exemplo, exportadores e importadores
5. Essas ações ameaçam as reservas internacionais do Brasil?
O valor ofertado até agora é bem inferior às reservas, de US$ 371 bi. O BC tem descartado a venda de moedas da reserva propriamente dita
6. E o cidadão que tem despesas em dólar?
A orientação de consultores é comprar a moeda aos poucos, para evitar variações bruscas, e pesquisar preços, já que a cotação varia bastante

O governo brasileiro avalia, no entanto, que ainda há dúvidas sobre o momento em que o Fed (BC dos EUA) aumentará os juros. Mas diz que o início do aperto monetário na maior economia mundial, quando ocorrer, se dará de forma gradual e cautelosa.

A expectativa é que isso contribua para reduzir o impacto da mudança nos mercados mundiais, especialmente sobre economias emergentes como o Brasil.

Na última vez em que falou publicamente sobre o assunto, em 24 de agosto, o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse que o processo de normalização das condições monetárias nos EUA prossegue de forma ordenada.

E que neste momento de aversão ao risco é necessário seguir no processo de ajustes na economia brasileira.

Essa continua sendo a visão da instituição.

Para o BC, as atuais condições monetárias (a taxa básica brasileira está em 14,25% ao ano) colocam o país em posição mais favorável para lidar com essas mudanças no mercado internacional.

O BC também mantém o discurso de que o regime de câmbio flutuante é a primeira linha de defesa contra os choques externos.

Na semana passada, diante da notícia do rebaixamento da nota de crédito brasileira, o BC optou por intervir neste mercado para conter o preço da moeda. Descartou, neste momento, subir os juros para conter uma possível fuga de recursos do país.

No mercado, a avaliação é que o BC deve manter a estratégia atual de intervenções.

João Medeiros, sócio da corretora Pioneer, afirma que a pressão sobre o câmbio hoje vem da procura por proteção contra a alta do dólar, por empresas que têm despesas ou receitas afetados pela moeda, por exemplo. Para ele, o BC está correto ao intervir por meio da venda de contratos de câmbio ("swap" cambial) que cumprem essa tarefa.

Evolução da taxa de juros dos EUA, em % -

Na semana passada, o BC utilizou outro instrumento de atuação, que são os empréstimos de dólares das reservas. Nesse caso, para atender que precisa mesmo de dinheiro, e não apenas de proteção.

A oferta de US$ 4,5 bilhões em dois leilões, antes e depois do rebaixamento, evitou uma alta maior das cotações.

O BC ainda tem bastante munição para seguir com os empréstimo de dólares, pois o valor ofertado até agora é bem inferior às reservas do Brasil em moeda estrangeira, que somam US$ 371 bilhões.

No "swap" cambial, a margem é menor. Quando anunciou o programa de intervenções diárias em 2013, a instituição havia colocado no mercado US$ 40 bilhões. Atualmente, são mais de US$ 100 bilhões, com custo de R$ 90 bilhões.

Outra forma de atuação no câmbio seria a venda de parte das reservas, o que o BC tem descartado. "Vender reserva, só se a gente tiver uma asfixia no mercado de câmbio e as empresas pararem de exportar", afirmou Medeiros.


Endereço da página:

Links no texto: