Folha de S. Paulo


Petrobras pode ter de buscar mais dinheiro no mercado em 2016

A Petrobras já admite extraoficialmente que pode ter que voltar ao mercado em meados de 2016 para compensar os efeitos do câmbio e do petróleo em seu caixa.

Oficialmente a empresa diz que com as captações recentes sanou sua situação em 2015 e 2016. Procurada para avaliar o impacto do câmbio e do petróleo em suas contas, a estatal não deu entrevista.

A busca por recursos, porém, fica mais complicada após o rebaixamento da nota de crédito pela Standard & Poor's. A Petrobras já havia sido rebaixada pela Moody's.

Além do aumento de custos de captação, o fato de não ter selo de boa pagadora por duas agências de risco limita o acesso fundos que só investem em empresas com grau de investimento.

Já contando com a perda do selo, a diretoria da Petrobras, sob o comando de Aldemir Bendine, correu para captar recursos, mesmo que pagando taxas de juros altas.

A empresa levantou US$ 10,6 bilhões, principalmente com investidores chineses e bancos nacionais. A meta era resolver a situação no médio prazo. Segundo a Folha apurou, a deterioração dos resultados piorou a situação.

GIGANTE ENTORPECIDO
Números da Petrobras
Petrobras
US$ 130 bi são os investimentos previstos no plano mais recente para o período 2014-2019
US$ 25 bi são os investimentos anuais previstos pela estatal
US$ 17 bi é a geração de caixa anual segundo relatório do banco Credit Suisse
US$ 7 bilhões são os juros devidos por ano segundo o Credit Suisse
US$ 12 bilhões são os cortes previstos em custos operacionais, incluindo demissões
US$ 10,6 bi foram emprestados por bancos, durante a gestão Aldemir Bendine
US$ 56 bilhões é o total da dívida da estatal em títulos vendidos a investidores no mercado global
até US$ 10 bi é a necessidade de recursos da estatal para fechar as contas em 2016, segundo bancos de investimento
R$ 0,53 bilhão foi o lucro da empresa no segundo trimestre de 2015, segundo o balanço, uma queda de 89% em relação ao 2º tri de 2014. A receita foi de R$ 79,94 bi
R$ 323,91 bi é a dívida líquida segundo o balanço
R$ 18,33 bi foram os investimentos no 2º tri deste ano, segundo o balanço da empresa

Para os bancos Citi e JPMorgan, a Petrobras precisará levantar entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões para fechar as contas em 2016.

"O rebaixamento do Brasil e da Petrobras fecha a janela de oportunidades para a empresa emitir novas dívidas", diz Marcos Severine, do JPMorgan, que acredita que bancos chineses podem socorrer a companhia.

Com a perda do grau de investimento, os bônus com vencimento para 2024 atingiram seu menor patamar desde que foram lançados em 2014 e os juros a serem pagos subiram agora para 9,6%.

Essa taxa é considerada alta pelo mercado. Os juros praticados no mercado secundário são um parâmetro para as emissões das empresas.

Depois da decisão da S&P, a Petrobras se tornou a maior emissora de papéis especulativos do mercado global com US$ 56 bilhões em bônus.

VENDAS

Outra alternativa para levantar recursos é vender patrimônio. No plano de negócios, a companhia estima obter US$ 58 bilhões com venda de ativos em cinco anos, um valor considerado muito alto pelos analistas.

O momento é ruim por causa do baixo preço do petróleo. A estatal também resiste a abrir mão do controle de alguns negócios, o que limita os valores que pode obter.

Para analistas, as negociações estão tomando mais tempo que o esperado. A estatal está perto de concluir a venda de 49% da Gaspetro, holding que reúne as distribuidoras de gás. Mas o valor que deve obter será baixo em relação ao montante que necessita.

Na avaliação do Citibank, ativos com potencial para levantar recursos são a BR Distribuidora, a TAG (que reúne os gasodutos) e os campos de petróleo no golfo do México, nos Estados Unidos.

A estatal desistiu de fazer um IPO da BR Distribuidora por causa das fracas condições do mercado e vai buscar um sócio estratégico.

REFLEXO DO REBAIXAMENTO - Ações da Petrobras recuam após perda de grau de investimento


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