Folha de S. Paulo


análise

Brasil estava imaturo quando recebeu grau de investimento

O Brasil obteve o certificado de investimento seguro sem ter seguido o manual de boas maneiras econômicas tradicionalmente recomendado aos emergentes.

Em abril de 2008, quando conseguiu da mesma Standard & Poor's o celebrado selo de bom pagador, o país não havia controlado a expansão das despesas obrigatórias no Orçamento, não havia concedido autonomia formal ao Banco Central nem havia levado adiante reformas previdenciárias e trabalhistas.

Tudo isso havia sido recomendado dois anos antes à administração petista pela cúpula do FMI (Fundo Monetário Internacional). A despeito do descumprimento das diretrizes, a honraria foi concedida pelas agências de classificação de risco.

Não é difícil entender: o governo Lula surfava em um ciclo de alta dos preços dos produtos primários de exportação que impulsionava a economia do país e a receita do Tesouro Nacional. Medida pela régua do FMI, a dívida pública havia caído, em seis anos, de 80% para 60% do PIB (Produto Interno Bruto).

Agora, não há mais ventos a favor no comércio exterior, na atividade e na arrecadação, enquanto a dívida caminha para a casa dos 70% do PIB —e o país paga o preço da precariedade das instituições econômicas e políticas.

A alta das despesas obrigatórias, mantida intacta nos anos de bonança, impede a elaboração de um Orçamento equilibrado em tempos de vacas magras. Submetido à ingerência do Planalto, o Banco Central permitiu a escalada da inflação que levou aos juros elevados de agora.

O país chegou imaturo ao grau de investimento. Foi por um tanto de soberba que o desmonte da política de metas fiscais e de inflação começou pouco depois da conquista do selo.

Com o mundo desenvolvido em crise e o sucesso inicial do intervencionismo econômico doméstico, os heterodoxos da administração petista entenderam que era a hora de dar as cartas. E o certificado de investimento seguro, obtido sem todo o esforço previsto, foi perdido mais rapidamente que o esperado.


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