Folha de S. Paulo


Agência de risco S&P rebaixa nota do Brasil, que perde selo de bom pagador

Emmanuel Dunand - 18.set.2012/AFP
S&P corta grau de investimento do Brasil e coloca a nota do país em perspectiva negativa
S&P corta grau de investimento do Brasil e coloca a nota do país em perspectiva negativa

Após ameaçar rebaixar o Brasil, a agência de classificação de risco Standard & Poor´s cumpriu a promessa e retirou o selo de bom pagador do país, citando a "falta de habilidade" e "vontade" do governo Dilma Rousseff ao submeter um orçamento deficitário ao Congresso.

A agência, que já havia criticado deputados e senadores por dificultar o ajuste, agora passou a questionar o comprometimento e coesão do governo para arrumar as contas públicas.

A decisão sobre o rebaixamento, que classifica a dívida brasileira como de alto risco de calote, só era esperada para o próximo ano. As agências haviam dado uma trégua ao ministro Joaquim Levy para implementar o ajuste. O orçamento deficitário, porém, acelerou o processo.

Classificação de risco

Além de cortar a nota do Brasil, a agência colocou o país em perspectiva negativa para nova redução de sua classificação dizendo que há mais de "uma chance em três" de a situação piorar.

Isso porque, diante das dificuldades políticas no Congresso, há risco de aprovarem medidas que prejudiquem ainda mais as contas públicos. A agência também dá sinais de que está preocupada com o enfraquecimento do ministro Levy ao afirmar que teme um "aumento da falta de coesão" na equipe da presidente Dilma.

Com o rebaixamento, a nota do país caiu de BBB- para BB+. O Brasil passa a ter a mesma avaliação da Rússia, que sofreu embargo internacional devido à guerra na Crimeia e foi duramente afetado pela baixa do petróleo.

O país segue como grau de investimento nas agências Moody´s e Fitch. Na Moody´s, a classificação é "Baa3", a apenas um passo de perder o selo de bom pagador; na Fitch, a situação é um pouco mais confortável, com nota "BBB", a dois degraus de se tornar grau especulativo.

IBOVESPA DESDE QUE A S&P CONCEDEU GRAU DE INVESTIMENTO AO BRASIL

A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.

O selo de bom pagador, que é um reconhecimento de que o país é um lugar seguro para os investidores, costuma ser exigido por fundos de investimento e de pensão bilionários para aplicar em títulos de dívida de governos.

Normalmente, pedem que a aplicação seja considerada grau de investimento por, pelo menos, duas das grandes agências. Ou seja, a possível saída em massa desses investidores só ocorreria depois da decisão da Moody´s ou Fitch.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, mesmo assim, pode haver uma forte correção no dólar e nas ações porque os investidores não acreditavam que o rebaixamento viria agora.

"Vai afugentar mais investimentos e aprofundar a recessão. Ainda não estamos no mesmo patamar de Argentina e Venezuela, mas dificilmente a situação melhora antes do final do governo", disse Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda.

Evolução da nota do Brasil pela S&P -

OUTRAS AGÊNCIAS

A decisão da S&P ocorre menos de um mês após a agência de classificação de risco Moody's cortar a nota do país para Baa3 —o último nível do grau de investimento. A perspectiva, porém, foi colocada como estável.

Na Fitch, o Brasil está a dois níveis do grau especulativo, mas a agência já sinalizou que vai revisar a nota do país em breve.


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