Folha de S. Paulo


Em livro, Miriam Leitão traça quadro otimista para futuro do Brasil

Ze Carlos Barretta - 6.ago.2015/Folhapress
A jornalista Miriam Leitão durante lançamento de seu livro
A jornalista Miriam Leitão durante lançamento de seu livro "História do Futuro" em São Paulo

A crise econômica, a Operação Lava Jato, o deficit do Orçamento de 2016, a devastação na Amazônia, o baixo rendimento dos alunos brasileiros em avaliações de desempenho.

Essa é uma pequena amostra da lista de assuntos atuais que podem levar muitos a perguntar, desanimados: "O Brasil tem futuro"?

Ao contrário do que aponta nossa conjuntura atual, a jornalista Miriam Leitão acredita que sim, o país pode se tornar um dos protagonistas do século 21.

Acostumada a comentar o que vai mal no país em jornal ("O Globo"), em rádio (CBN) e em televisão (Globo News), ela dedicou quatro anos de pesquisas, viagens, entrevistas e análises de dados para explicar, no livro "História do Futuro", qual o destino possível do Brasil e o que fazer para que ele se realize.

Na obra, temas relevantes para as próximas décadas são analisados em 12 capítulos. A jornalista parte das questões mais profundamente brasileiras, tratando primeiro da defesa da Amazônia e da biodiversidade, das tendências demográficas, da educação, da saúde e da economia.

Conforme se avança na leitura, entra-se no mundo globalizado de hoje, da tecnologia que avança rapidamente, das cidades se tornando moradia da maior parte da população global e da necessidade de se inserir nas cadeias de produção e de comércio internacionais.

O Brasil do futuro vislumbrado com otimismo por Miriam não é uma miragem ingênua ou ufanista. Ele é resultado da realização de potenciais que foram dados pela natureza, somados a avanços que o país vem acumulando com o tempo, mesmo com retrocessos que às vezes os escondem.

Na apresentação do livro está a ideia principal: "Somos o primeiro país em biodiversidade do mundo. Somos o segundo maior reservatório de água doce, temos o maior potencial de energia renovável por quilômetro quadrado. Somos e seremos do reduzido grupo de países fornecedores de alimentos".

No campo econômico, Miriam olha para o presente e não poupa críticas ao governo Dilma pela perda de credibilidade das contas públicas, pela disseminação de incentivos setoriais e pelo uso de preços controlados para segurar a inflação.

Mas, lembra a autora, se vivemos em um país em recessão, em 1990 a inflação de qualquer mês superaria a meta anual de hoje.

A estabilidade da moeda que veio em seguida não está ameaçada. Falta de atenção a inflação é respondida com queda de popularidade dos governantes, afirma.

RISCOS

Mas nada está garantido. Países podem fracassar e, no caso do Brasil, o principal risco é perder gerações pela falta de melhoras na educação.

No Pisa, exame educacional cujos resultados são divulgados a cada três anos pela OCDE, o Brasil foi 58º em matemática, 59º em ciência e 55º em leitura, entre 65 países pesquisados em 2012.

Porém mesmo nesse campo houve avanço. A universalização do ensino fundamental, negligenciada durante o regime militar, foi conquistada a passos contínuos a redemocratização.

O envelhecimento também deve ser motivo de mais atenção. Em 2050, podemos ter mais da metade da População Economicamente Ativa com mais de 50 anos, e o número de octagenários deve quadruplicar até lá. O cenário indica a necessidade de reformas na Previdência e investimento em assistência para a população idosa.

As análises são pontuadas por histórias de pessoas que, por suas trajetórias, apontam para o futuro, quando exemplificam a valorização do ensino pela população ou a busca por mais produtividade no campo sem agredir o ambiente, por exemplo.

Outros depoimentos, porém, escancaram a dimensão de nosso atraso. O mais contundente desses é o da cardiologista Lilian Paula de Souza, que abre o capítulo sobre desigualdade. Negra, ela contou que sua cor de pele em diversas ocasiões foi uma barreira para que progredisse na carreira. Também foi vítima de racismo de pacientes.

Equilibrando o que há de melhor e de pior no Brasil, o livro ajuda a olhar o horizonte que está à frente da crise atual. Entender quais são nossas capacidades e traçar objetivos é a primeira coisa a ser feita para escolher o caminho a ser seguido.

HISTÓRIA DO FUTURO
AUTORA Miriam Leitão
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 49,90 (496 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom


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