Folha de S. Paulo


Empresários revelam como sobreviver ao investir em produto da moda

Quando o empresário Bruno Queiroz, 25, resolveu investir no mercado de cupcakes, no final de 2009, a concorrência ainda era pequena.

No ano seguinte, o bolinho recheado virou uma febre no país e a competição aumentou. Mais um ano se passou e a sobremesa entrou na lista de modinhas do verão passado, que inclui mais recentemente a paleta mexicana.

"Nós sabíamos que havia um cenário exagerado. Não era possível que uma pessoa comesse cupcakes quatro ou cinco vezes por semana. Sabíamos que era questão de tempo até que voltássemos para a realidade", diz Queiroz, da The Original Cupcake.

O olhar realista do empresário levou a um plano de negócios mais modesto, que ignorava os números de venda do período de ápice -e foi um dos segredos para que sua loja não entrasse na lista dos empreendimentos com curto tempo de vida.

"Quando o boom de cupcakes acabou, havia muitas marcas com infraestrutura inflada. Nós sempre tentamos reduzir os custos, negociar bem com os fornecedores e manter um bom fluxo de caixa", explica o empresário.

A análise cautelosa também foi a fórmula de outro sobrevivente das grandes modas do ramo de alimentos. Alexandre Tenenbaum, sócio-fundador da Yoggi, conteve o crescimento da marca no auge do "frozen yogurt", tipo de sorvete de iogurte, no fim da década passada.

Ricardo Borges/Folhapress
Alexandre Tenenbaum diante da loja de sorvete de iogurte Yoggi, no Shopping Metropolitano Barra, do Rio de Janeiro
Alexandre Tenenbaum diante da loja de sorvete de iogurte Yoggi, no Shopping Metropolitano Barra, do Rio de Janeiro

"A maior dificuldade é saber dizer 'não'. Tivemos que negar franquias para pessoas que não tinham o perfil do nosso negócio, mesmo sabendo que eles iriam direto para a concorrência. Também evitamos lançar produtos que não tinham a ver com o perfil da marca", relembra.

Para Claudia Bittencourt, consultora especializada em franquias, a concorrência é um dos maiores riscos para os empreendedores que querem aproveitar as grandes ondas do mercado.

"É preciso levar em consideração se não existe um concorrente que pode entrar no mercado e acabar com tudo. No caso das paletas mexicanas, por exemplo, se grandes marcas de sorvete quisessem aproveitar a onda, não teria espaço para os pequenos", afirma Bittencourt.

DIVERSIFICAÇÃO

Para os sobreviventes da moda passada, a concorrência ganha novas formas.

Queiroz diz que a rede The Original Cupcake disputa seus clientes nos shoppings, repletos de opções de sobremesas e doces.

"A concorrência entre marcas de cupcakes acontece mais no mercado de doces para eventos sociais e corporativos", diz o empresário.

Já Tenenbaum diz que os sorvetes de iogurte enfrentam concorrência "do segmento de alimentação por impulso e indulgência".

Para se sobressair, as duas marcas investiram em diversificar o cardápio.

Queiroz hoje vende também brownies, brigadeiros e sorvetes em mais de 50 lojas e quiosques.

Ele lançou ainda um modelo de loja de rua que serve cafés e outra modinha de verão: os bolos caseiros.

Já a Yoggi inclui na lista de seus produtos açaí e cookies. A marca foi comprada há três anos pela Brazil Fast Food Corporation, dona das redes Bob's e Pizza Hut no Brasil.

PÚBLICO

Diversificar também foi uma das estratégias de Gustavo Toja, fundador da rede de temakerias Makis Place.

Quando o setor de temakerias se aqueceu, a partir de 2007, ele reforçou o menu das lojas, que hoje conta até com burrito de sushi.

Outra tática foi ampliar o horário de atendimento dos restaurantes.

"Quando a rede surgiu, em 2006, ficou muito claro que o maior consumidor era o jovem universitário. Muitos saíam de baladas de madrugada e procuravam temakis para matar a fome. Até hoje temos lojas que funcionam até as 6h nos finais da semana", explica.

Toja também investiu em atrair uma outra ponta do negócio: os franqueadores.

"Eu tirei a cozinha do restaurante. Hoje o franqueado recebe os ingredientes prontos. Assim, ele não precisa dessa expertise e não há desperdício", diz.

Para quem pensa em embarcar no sucesso do verão de 2016, o consultor Marcus Rizzo dá uma dica: busque uma franquia que tenha mais experiência de mercado.

"Escolha um franqueador que tenha as ferramentas para sobreviver quando a moda acabar. Isso significa alguém que operou efetivamente o negócio por algum tempo para conhecer o produto e saber o que está fazendo", diz.

Como aproveitar o pico sem cair:

Seja realista
Não baseie seu plano de negócios no número de vendas do auge do setor. Tente sempre enxugar custos e evitar uma operação muito inflada sem base para se manter.

Siga o exemplo
Franquia pode ser aposta de menor risco na hora de investir no setor da moda. Busque uma marca com experiência tanto na área quanto no gerenciamento do negócio.

Busque diferencial
Para não ser só mais um na onda, ofereça algo a mais, desde opções mais variadas no cardápio até entrega ou horário de funcionamento estendido.


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