Especializadas em preparar balanços e resolver complicadas questões tributárias, as quatro maiores auditorias do globo disputam uma batalha em novo terreno.
Conhecidas como as "Big Four" (as quatro grandes), Deloitte, EY, KPMG e PwC sempre atenderam às maiores companhias de capital aberto do planeta.
As unidades de investimento, porém, se voltam a empresas de porte médio, de capital fechado, com valores de mercado de algumas centenas de milhões de dólares.
Dado o boom nas fusões e aquisições, elas estão sendo agressivas na contratação de executivos financeiros. Em julho, a Deloitte contratou um diretor-executivo sênior do BNP Paribas, e a KPMG e a PwC, respectivamente, recrutaram executivos do Deutsche Bank e do Rothschild.
Historicamente, executivos financeiros importantes costumavam buscar emprego em outros grandes bancos, ou em instituições de nicho.
O fato de que agora estejam aceitando propostas de empresas mais conhecidas por sua eficiência contábil é uma aposta intrigante.
CAPILARIDADE GLOBAL
Para as consultorias, a decisão de expandir o segmento de fusões e aquisições pode ser vista como evolução óbvia de suas operações. A PwC, por exemplo, conta com quase 200 mil funcionários espalhados por 157 países, o que lhe garante uma base natural de relacionamentos com clientes a garimpar, e de conhecimento setorial especializado a compartilhar.
Embora transações bilionárias conquistem manchetes, o grosso das operações tem valor mais baixo e ocorre em ritmo mais regular.
A KPMG, por exemplo, assessorou 377 fusões e aquisições em 2014, de acordo com a Dealogic. Foi um número mais alto que o de qualquer outra instituição, exceto o banco Goldman Sachs.
O faturamento proveniente de operações que não as de auditoria e consultoria tributária já responde por de 20% a 30% da receita das Big Four.
Todas elas vêm fortalecendo também suas operações de consultoria em áreas como tecnologia, documentação e gestão estratégica.
MERCADO COMPORTA?
Restam questões. Primeiro, o volume de transações médias é alto o bastante para justificar essa expansão?
Já existem muitas empresas que assessoram transações de porte médio, como a Houlihan Lokey, que abriu seu capital recentemente, a Harris Williams e a Lincoln International. Bancos maiores também aceitarão contratos menores, a fim de compensar o fluxo errático das grandes transações.
Outra dúvida é se as Big Four podem ceder à tentação de procurar as transações de maior porte, um mercado igualmente agressivo.
Grandes empresas se preocupam muito com seu status, e por conta do escrutínio legal que uma abertura de capital pode causar, podem hesitar em contratar assessores cuja identidade –justa ou injustamente– é vista como associada à contabilidade.
Ser uma empresa completa, capaz de vender empréstimos, derivativos, ações, seguros, consultoria e gestão de patrimônio a múltiplos clientes, sempre foi o objetivo maior dos bancos mundiais.
Essa busca muitas vezes fracassou, tanto no curto quanto no longo prazo.
No entanto, se as auditorias tropeçarem, pelo menos a dor caberá aos seus sócios –e não a acionistas.