Folha de S. Paulo


Dólar perde força após bater R$ 3,81 com preocupação econômica

Nacho Doce - 6.ago.2015/Reuters
A woman holds a giant U.S. $1 banknote and a five reais banknote inside a shop, in the town of Itu, northwest of Sao Paulo, Brazil August 6, 2015. Brazil's 12-month inflation rate rose more than expected in July, to the highest in nearly 12 years, as electricity rates continued to increase sharply. A severe economic downturn and widening corruption scandal that involves dozens of lawmakers has undercut confidence in President Dilma Rousseff's leadership and raised public support for her impeachment just six months into her second term. These political tensions have dragged the Brazilian real to its weakest in more than 12 years against the U.S. dollar and prompted doomsday warnings from big investors. Picture taken August 6, 2015. REUTERS/Nacho Doce ORG XMIT: NAC01
Mulher segura dólar de Itu, SP; moeda ultrapassa R$ 3,80 com dúvidas sobre permanência de Levy

Dúvidas em torno da permanência do ministro Joaquim Levy à frente da Fazenda e preocupações econômicas levaram o dólar a ultrapassar R$ 3,80 na abertura das negociações nesta quinta-feira (3), mas a alta da moeda americana perdeu força no início da tarde.

"[A perda de força do dólar] aconteceu justo quando a Câmara dos Deputados iniciou a votação da medida provisória que aumenta a alíquota da Contribuição sobre o Lucro Líquido do setor financeiro", escreveu o operador da corretora SLW, João Paulo de Gracia Correa, em nota a clientes.

Segundo o texto-base aprovado pela Câmara, a CSLL subirá para 20% até 1º de janeiro de 2019, ante os atuais 15%, o que pode levar bancos brasileiros com subsidiárias no exterior a vender dólares para manter sua proteção cambial.

Às 13h15 (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de 0,41% sobre o real, cotado em R$ 3,762 na venda. Por ora, este é o maior valor desde 12 de dezembro de 2002, quando valia R$ 3,791 (ou R$ 6,23 hoje, após correção inflacionária). Mais cedo, a moeda chegou a atingir a máxima de R$ 3,818.

Já o dólar comercial, utilizado em transações no comércio exterior, tinha ligeira alta de 0,02%, para R$ 3,763 –é também, por ora, o maior valor desde 12 de dezembro de 2002, quando fechou em R$ 3,790 (ou R$ 6,23 hoje). Mais cedo, a cotação chegou até R$ 3,818.

A avaliação de analistas é que a crise política e econômica brasileira deve continuar empurrando o dólar para cima. Reportagem publicada pela Folha revelou que o ministro procurou na véspera a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, para reclamar de isolamento e falta de apoio no governo, pondo em dúvida sua permanência no cargo se a situação não mudar.

Ainda na quarta-feira, depois de falar com Levy por telefone, a presidente Dilma fez uma defesa pública do ministro, dizendo que ele "não está desgastado" nem "isolado" no governo.

Preocupações em torno das contas públicas brasileiras seguem no radar dos investidores. No geral, analistas disseram que o quadro piorou depois que o governo entregou ao Congresso nesta semana uma proposta de Orçamento para 2016 prevendo deficit primário de R$ 30,5 bilhões.

A medida elevou o temor de que o país perca seu selo de bom pagador atestado por agências internacionais de classificação de risco. A perda forçaria grandes fundos a retirar investimentos que possuem no país, agravando ainda mais o cenário econômico.

"Não é questão de especulação, é fundamento", disse Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global. "O cenário é muito ruim, e não há perspectiva de melhora. O mercado já considera a perda do selo de bom pagador do país. A questão agora é saber quando isso vai acontecer. Não tem por que as agências [de classificação de risco] não rebaixarem a nota do país."

"É uma crise profunda, de longo prazo. É interno e estrutural, diferente das últimas turbulências econômicas que foram motivadas por fatores no exterior. É preciso discutir como vamos pagar o rombo da previdência no futuro, bancar pensões, aposentadorias, seguro-desemprego, FGTS etc, e tomar medidas. Este é o grande ponto, reduzir as despesas obrigatórias do governo", completou Velho.

No exterior, o dólar subia sobre 17 das 24 principais moedas emergentes do mundo, segundo dados da agência internacional Bloomberg. O movimento lá fora é reflexo do desaquecimento da economia chinesa e sinais de fortalecimento dos Estados Unidos, o que pressiona por uma alta de juros naquele país –quando isso ocorrer, haverá uma saída de recursos do Brasil e demais emergentes, encarecendo o dólar.

AÇÕES EM ALTA

No mercado de ações, o principal índice da Bolsa brasileira operava no azul. O ânimo era estimulado pelo avanço dos mercados acionários no exterior, uma vez que a decisão do Banco Central de manter inalterada a taxa básica de juros brasileira (Selic) em 14,25% ao ano, na véspera, não trouxe surpresa.

"Agora resta saber se os acontecimentos vão de fato permitir uma convergência [da inflação para a meta do governo], ou vão exigir novas ações do BC. Da reunião anterior do Copom [Comitê de Política Monetária] para a de ontem, o cenário econômico no Brasil se deteriorou", disse Celson Plácido, da XP Investimentos, em relatório.

Às 13h15, o Ibovespa tinha valorização de 1,20%, para 47.023 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 3,3 bilhões. O índice era influenciado pela forte valorização das ações preferenciais (sem direito a voto) da mineradora Vale, de 3,70%, a R$ 15,12. Já os papéis ordinários da companhia, com direito a voto, ganhavam 4,69%, para R$ 18,96.

No cenário externo, as Bolsas de Nova York subiam mais de 0,5%, enquanto na Europa os principais índices de ações registravam ganhos de mais de 1%. Na Ásia, os mercados fecharam a quinta-feira no azul.

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Com Reuters


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