Folha de S. Paulo


Dólar sobe e Bolsa cai com deficit em Orçamento do governo para 2016

Mark Wilson/AFP
Dólar tem maior alta para o mês de agosto desde 1999 com deficit em Orçamento do governo
Dólar tem maior alta para o mês de agosto desde 1999 com deficit em Orçamento do governo

A divulgação da proposta de Orçamento do governo brasileiro para 2016 prevendo deficit primário derrubou o principal índice da Bolsa brasileira nesta segunda-feira (31) e provocou uma alta do dólar em relação ao real, fazendo com que a moeda americana terminasse agosto com a maior valorização para o mês desde 1999.

A avaliação de analistas é que a divulgação ampliou entre os investidores o receio de o Brasil perder seu grau de investimento –selo de bom pagador atestado por agências internacionais de classificação de risco. A perda forçaria grandes fundos a retirar investimentos que possuem no país, agravando ainda mais o cenário econômico.

O clima de aversão ao risco foi mais intenso de manhã, com a expectativa pelo anúncio do governo, que foi confirmada pela tarde. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, chegou a bater R$ 3,68 durante a sessão, mas fechou em R$ 3,633 na venda –alta de 1,34%.

No mês, a valorização acumulada foi de 6,21% –maior alta para meses de agosto desde 1999, quando subiu 7,32%. Em julho, a moeda havia avançado 10,08%. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançou 1,17% no dia e 5,96% em agosto, para R$ 3,629.

No mercado de ações, o Ibovespa teve queda de 1,12% nesta segunda, para 46.625 pontos. O volume financeiro foi de R$ 9,405 bilhões. O mau humor nos mercados internacionais, com investidores preocupados com o crescimento chinês, também colaborou para a perda da Bolsa brasileira. Em agosto, o índice perdeu 8,33% –maior baixa mensal desde dezembro de 2014, quando cedeu 8,62%.

"Sem a recriação da CPMF (o chamado imposto do cheque), o governo não tem muitas alternativas para cobrir o rombo de R$ 80 bilhões. Tudo indica que a meta de superavit primário de 2016, de 0,7% do PIB, seja reduzida novamente e é possível que haja corte de programas sociais", disse Celson Plácido, analista da XP Investimentos, em relatório.

Para Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Corretora, o orçamento com possível previsão de deficit primário "mostra que a qualidade do trabalho feito pelo governo foi muito ruim". Ele ressalta que o PIB para o ano que vem projetado pelo Focus está muito fraco, e o setor de serviços apresenta queda, "o afugenta o investidor de Bolsa".

"A chance maior de perda do grau de investimento afasta principalmente os estrangeiros do mercado brasileiro. No último mês houve saída de recursos externos da Bovespa, e em agosto não deve ser diferente. Com a alta taxa de juros que temos no país, o risco de investir em Bolsa não é atraente, e a volatilidade deve continuar", afirmou.

O economista Alberto Ramos, do banco americano Goldman Sachs, disse que o governo "está aparentemente jogando a toalha" em aprovar novos esforços fiscais. "Provavelmente será uma batalha difícil, dado o fraco apoio político do governo no Congresso e a falta de apetite no Legislativo para votar impostos ou cortes em programas sociais", afirmou em nota.

Na visão de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, indicar um deficit primário no Orçamento "significa admitir que o país não consegue se decidir por um caminho que evite o pior".

Segundo ele, "não há consenso para transformar um desequilíbrio no presente em equilíbrio futuro", o que resultará em uma dívida crescente e risco Brasil maior. "Nesse caso, as agências de classificação provavelmente reduziriam o grau de investimento do Brasil", disse em nota.

A forte valorização do dólar nesta segunda ocorreu mesmo após o Banco Central do Brasil ter reforçado sua atuação no mercado de câmbio para reduzir a volatilidade da moeda americana.

O BC promoveu um leilão de venda de US$ 2,4 bilhões com compromisso de recompra em 4 de novembro de 2015 e 2 de dezembro de 2015. A autoridade também sinalizou que deve rolar integralmente os contratos de swaps cambiais que vencem em outubro. A operação equivale a uma venda futura de dólares.

AÇÕES

Das 66 ações do Ibovespa, apenas 15 tiveram desempenho positivo nesta segunda-feira, e duas ficaram estáveis. Quem liderou a ponta positiva do índice foi a Braskem, com ganho de 4,84%, para R$ 14,07.

Os bancos, setor com maior peso na Bolsa brasileira, caíram. Banco do Brasil perdeu 5,06%, Bradesco teve desvalorização de 4,08% e Itaú registrou baixa de 3,56%.

Já as ações preferenciais (sem direito a voto) de Petrobras e Vale subiram 2,11% e 3,21%, respectivamente, para R$ 9,19 e R$ 14,15. Ambas se beneficiaram da retomada nos preços das commodities no exterior.


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