Folha de S. Paulo


Dólar atinge maior nível desde 2002 com mercado de olho em Orçamento

A expectativa pela divulgação da proposta de Orçamento do governo brasileiro para 2016 prevendo deficit primário derrubou o principal índice da Bolsa brasileira nesta segunda-feira (31) e provocou uma disparada do dólar em relação ao real.

Às 10h45 (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de 2,65%, cotado em R$ 3,680 na venda. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançava 2,62%, para R$ 3,681.

Neste momento, o dólar à vista está em seu maior valor desde 13 de dezembro de 2002, quando valia R$ 3,730 –ou R$ 6,14 hoje, após correção inflacionária. O dólar comercial também operava no maior valor desde 13 de dezembro de 2002, quando fechou cotado R$ 3,740 –ou R$ 6,15 hoje.

No mercado de ações, o Ibovespa tinha queda de 2,91%, para 45.783 pontos. O volume financeiro girava em torno de R$ 900 milhões. O mau humor nos mercados internacionais, com investidores preocupados com o crescimento chinês, também colaborava para a perda da Bolsa brasileira.

Segundo operadores, o clima de aversão ao risco no mercado local reflete principalmente a possibilidade de a proposta de Orçamento para 2016 que será enviada pelo governo ao Congresso nesta segunda trazer projeção de deficit primário para o ano que vem.

Com isso, dizem, os investidores passariam a enxergar maior probabilidade de o Brasil perder seu grau de investimento –selo de bom pagador atestado por agências internacionais de classificação de risco. A perda forçaria grandes fundos a retirar investimentos que possuem no país, agravando ainda mais o cenário econômico.

"Sem a recriação da CPMF (o chamado imposto do cheque), o governo não tem muitas alternativas para cobrir o rombo de R$ 80 bilhões. Tudo indica que a meta de superavit primário de 2016, de 0,7% do PIB, seja reduzida novamente e é possível que haja corte de programas sociais", disse Celson Plácido, analista da XP Investimentos, em relatório.

Para Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Corretora, o orçamento com possível previsão de deficit primário "mostra que a qualidade do trabalho feito pelo governo foi muito ruim". Ele ressalta que o PIB para o ano que vem projetado pelo Focus está muito fraco, e o setor de serviços apresenta queda, "o afugenta o investidor de Bolsa".

"A chance maior de perda do grau de investimento afasta principalmente os estrangeiros do mercado brasileiro. No último mês houve saída de recursos externos da Bovespa, e em agosto não deve ser diferente. Com a alta taxa de juros que temos no país, o risco de investir em Bolsa não é atraente, e a volatilidade deve continuar", afirmou.

O economista Alberto Ramos, do banco americano Goldman Sachs, disse que o governo "está aparentemente jogando a toalha" em aprovar novos esforços fiscais. "Provavelmente será uma batalha difícil, dado o fraco apoio político do governo no Congresso e a falta de apetite no Legislativo para votar impostos ou cortes em programas sociais", afirmou em nota.

A forte valorização do dólar nesta segunda ocorre mesmo após o Banco Central do Brasil ter reforçado sua atuação no mercado de câmbio para reduzir a volatilidade da moeda americana.

Nesta segunda-feira, o BC fará um leilão de venda de até US$ 2,4 bilhões com compromisso de recompra em 4 de novembro de 2015 e 2 de dezembro de 2015. A autoridade também sinalizou que deve rolar integralmente os contratos de swaps cambiais que vencem em outubro. A operação equivale a uma venda futura de dólares.


Endereço da página:

Links no texto: