Folha de S. Paulo


Novos leilões de aeroportos ocorrerão sob impacto de Lava Jato e recessão

A nova rodada de concessões de aeroportos será realizada sob os desdobramentos da Operação Lava Jato.

As construtoras Odebrecht, UTC, OAS, Engevix e Camargo Corrêa, que são alvo das investigações da Polícia Federal, participam (ou participaram) dos consórcios vencedores no seis leilões realizados desde 2012.

Com algumas das maiores construtoras do país no centro das investigações, não havia ambiente para realizar os leilões dos aeroportos de Salvador, Porto Alegre, Fortaleza e Florianópolis em 2015, como previsto no início.

Especial: Aeroportos
Plano de concessões está mudando a cara dos aeroportos nacionais
Aeroporto

Na prática, o trabalho nos aeroportos já concedidos permanece o mesmo. As concessionárias atuais já revelaram planos de participar do próximo leilão, e seus investimentos estão em curso.

A Engevix vendeu sua participação na Inframérica, consórcio que administra os aeroportos de Brasília e Natal. A construtora usou parte dos recursos para quitar dívidas com bancos e outra parte para ressarcir a Corporación América, sua sócia na Inframérica, por investimentos que deixou de fazer.

O presidente da Inframérica, José Luiz Menghini, diz que o consórcio, agora sem a Engevix, vai participar da próxima rodada de concessões. "Estamos atentos às oportunidades de negócios", afirma o executivo.

A OAS também pôs à venda sua fatia de 25% na Invepar, uma das integrantes da GRU Airport, a concessionária que administra o Aeroporto de Guarulhos.

ATRASO

A UTC, que pertence a Ricardo Pessoa, um dos líderes das empreiteiras acusadas de corrupção e preso desde novembro, também negocia com bancos a venda de sua participação de 23% em Viracopos. A prisão de Pessoa dificultou o crédito por parte do consórcio e o aeroporto está com obras atrasadas.

Apesar da prisão do presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, a Odebrecht Transport, sócia da Rio Galeão, diz ter "total interesse" de participar da nova rodada de concessões de aeroportos. Em nota, a empresa informa não haver nenhum impedimento. "Na Organização Odebrecht, há 15 unidades de negócios distintas, com liderança claramente definida, governança própria e fluxos de caixa segregados. Uma dessas unidades é a Odebrecht Transport, que não está sendo investigada na Lava Jato."

A próxima rodada de concessões não terá contra si apenas a investigação sobre as maiores construtoras brasileiras. A retração da economia afeta a capacidade de investimento das empresas.

"A oferta de crédito diminuiu, e isso pode ser um fator negativo", diz Alexandre Andrade, economista da GO Associados. Mas, a despeito do momento ruim da economia, Andrade vê boas perspectivas para o próximo leilão. "Temos recebido muitas consultas de investidores estrangeiros. O momento é ruim, mas eles sabem que, em algum momento, o crescimento vai voltar."

Sem fazer projeções sobre os resultados do próximo leilão, Jorge de Moraes Jardim Filho, presidente da Aneaa (Associação Nacional das Empresas Administradoras de Aeroportos), relaciona um outro fator de atração para potenciais investidores: as regras do jogo, definidas.

"Conseguimos construir um marco regulatório mais forte desde o início das concessões", diz. "Para as empresas, isso mostra coerência e dá segurança."


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