Folha de S. Paulo


Bolsa cai com PIB do Brasil, mas tem 1ª semana positiva no mês; dólar sobe

O encolhimento maior que o esperado da economia brasileira no segundo trimestre ajudou o principal índice da BM&FBovespa a fechar em queda nesta sexta-feira (28). O mau humor nas Bolsas dos Estados Unidos após declarações de membros do Federal Reserve (banco central americano) sobre a economia daquele país também afetou negativamente o mercado.

Depois ter caído até 1,82% durante o dia, o Ibovespa encerrou em baixa de 1,18%, para 47.153 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,487 bilhões. Apesar deste desempenho, as altas registradas nas três últimas sessões garantiram ganho acumulado na semana de 3,14%. Foi a primeira alta semanal no mês.

O PIB (Produto Interno Bruto), medida da produção de bens e serviços do país, registrou queda de 1,9% entre abril e junho, e de 2,6% na comparação com o mesmo período de 2014. O resultado confirmou que o Brasil está em recessão.

Economistas consultados pela agência Bloomberg previam recuo de 1,7% do PIB no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano. Sobre um ano antes, a expectativa média apontava queda de 2,6%.

"Continua havendo uma deterioração dos fundamentos econômicos do Brasil. No campo fiscal, o governo não está sendo capaz de corrigir os efeitos dos excessos cometidos no passado e isso está elevando o risco de o país perder o grau de investimento [selo de bom pagador]", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

O desempenho ruim da economia brasileira no segundo trimestre deste ano provocou revisões na expectativa de economistas para o PIB do país em 2015.

Também influenciou negativamente o mercado nesta sexta-feira a notícia de que o setor público brasileiro teve deficit primário de R$ 10,019 bilhões em julho, acumulando em 12 meses um rombo equivalente a 0,89% do PIB, o pior da série histórica do Banco Central.

"[O deficit primário do governo] não foi o primeiro dado fiscal ruim que o Brasil apresentou nos últimos meses. Há uma sequência deles, o que mantém a tendência de baixa da Bolsa no médio prazo. Há também um certo resquício das baixas provocadas no início desta semana pela preocupação de desaquecimento da economia da China, que continua", disse Elad Revi, analista-chefe da Spinelli Corretora.

Além da Bolsa, o quadro de deterioração econômica afetou o câmbio. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve alta de 1,12% nesta sexta, para R$ 3,585 na venda. Na semana, houve avanço de 2,50%. Já o dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, subiu 0,98% no dia e 2,63% na semana, a R$ 3,587.

A instabilidade nos mercados deve continuar no médio prazo, segundo Roberto Indech, analista da corretora Rico. "A crise política no Brasil e fatores externos geram preocupações entre os investidores. Além disso, estamos no fim do mês, período em que os fundos costumam readequar suas carteiras, o que motiva volatilidade adicional."

Para analistas, também permanece no radar dos investidores a possibilidade de o governo recriar a CPMF, o chamado "imposto do cheque". A medida foi incluída na proposta orçamentária, que aguarda aprovação da presidente Dilma Rousseff.

No exterior, o vice-presidente do Federal Reserve, Stanley Fischer, sugeriu que ainda é uma possibilidade aumentar a taxa de juros nos EUA já em setembro. O aperto monetário reduz a atratividade de ativos em países emergentes como o Brasil, que possuem risco mais elevado, e pode pressionar para cima a cotação do dólar, segundo operadores.

Na quarta-feira (26), o presidente do Fed de Nova York, William Dudley, havia afirmado que o início do aperto monetário americano no mês que vem passou a ser "menos convincente" do que há algumas semanas.

AÇÕES

A alta das ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras amenizou a perda do Ibovespa. A petroleira viu seu papel subir 1,24%, a R$ 9. Já o papel preferencial da Vale, que subiu mais de 1% durante o dia, fechou em leve queda de 0,07%, a R$ 13,71.

No setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, o desempenho foi negativo. Enquanto as ações preferenciais do Bradesco caíram 2,59%, os papéis do Itaú recuaram 2,86%. Já o Banco do Brasil teve desvalorização de 2,34%.

Papéis do setor educacional tiveram destaque nas duas pontas do índice. A Kroton esteve entre as maiores baixas, com perda de 3,72%, a R$ 8,81, enquanto a Estácio registrou a segunda maior valorização do Ibovespa no dia, de 1,65%, para R$ 12,95.

Reportagem do jornal "Valor Econômico" afirmou que o MEC (Ministério da Educação) está analisando a aplicação de um reajuste de 8,5% nas mensalidades pagas com o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) no próximo ano.


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