Folha de S. Paulo


Petrobras e Vale disparam e levam Bolsa à maior alta em nove meses

Agência Petrobras
Plataforma da Petrobras em São Roque do Paraguaçu (BA)
Plataforma da Petrobras em São Roque do Paraguaçu (BA)

Ações de grandes produtores de matérias-primas como Vale e Petrobras dispararam nesta quinta-feira (27) e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira, que fechou no azul pelo terceiro dia, no maior nível em nove meses.

O Ibovespa avançou 3,64%, a 47.715 pontos. Foi a maior valorização diária desde 21 de novembro de 2014, quando havia subido 5,02%. O volume financeiro ficou em R$ 7,830 bilhões. As ações preferenciais (sem direito a voto) de Petrobras e Vale avançaram 9,62% e 8,63%, respectivamente, para R$ 8,89 e R$ 13,72. Já os papéis ordinários dessas companhias, com direito a voto, ganharam 11,3% cada um.

"Há um rumor de que o governo chinês está se desfazendo dos títulos do Tesouro americano para financiar os programas de intervenção na China e se capitalizar. É uma maneira de tentar estimular e injetar dinheiro na economia", disse Ana Júlia Dias, executiva da equipe de análises da UM Investimentos.

Esta possibilidade motivou uma retomada nos preços das commodities, segundo Ana, o que beneficiou principalmente as ações de grandes produtoras globais de matérias-primas no dia. Com isso, os principais mercados internacionais fecharam no azul: em Nova York, os índices acionários subiram mais de 2%, assim como na Europa.

Também animou os investidores a revisão para cima da segunda estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA para um crescimento de 3,7% no segundo trimestre do ano, em vez dos 2,3% anteriormente previstos.

"O primeiro trimestre havia registrado desempenho fraco em função do clima adverso nos EUA. A economia americana segue em um bom ritmo de crescimento, por isso o indicador foi bem-recebido, mas ainda é preciso cautela com alguns setores", afirmou Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho.

Para o economista, o bom humor externo foi amenizado pela crise no cena política brasileira. As atenções se voltaram à possibilidade de o governo recriar a CPMF, o chamado "imposto do cheque". A medida foi incluída na proposta orçamentária, que aguarda aprovação da presidente Dilma Rousseff.

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade, disse à Folha ser "absurdo" ressuscitar a taxa. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou na véspera, em entrevista à GloboNews, que o governo pode recorrer à elevação de impostos para conseguir fechar suas contas.

O mercado digeriu com cautela a notícia de que o governo federal fechou o mês de julho com um deficit de R$ 7,2 bilhões em suas contas.

MATÉRIAS-PRIMAS E BANCOS

A siderúrgica Gerdau avançou 10,88%, para R$ 5,40. O ganho impulsionou os papéis de sua controladora, a Metalúrgica Gerdau, que subiu 17,67% –a maior alta do Ibovespa. A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e a ação preferencial da Usiminas mostraram valorizações de 9,87% e 5,88%, nesta ordem.

As ações de bancos continuaram nesta quinta-feira a refletir positivamente a aprovação pela comissão do Congresso, na última sessão, da alíquota menor de tributo que incide sobre o lucro das instituições financeiras.

O Banco do Brasil subiu 3,55%, enquanto o Itaú registrou valorização de 3,54% e o papel preferencial do Bradesco mostrou alta de 2,45%. Já o Santander Brasil teve ganho um pouco mais modesto, de 2,36%. O setor bancário é o segmento com maior peso dentro do Ibovespa.

Das 66 ações que compõem o índice, apenas quatro fecharam o dia no vermelho: a Smiles perdeu 0,86%, seguida por Embraer (-0,43%), a varejista Hering (-0,29%) e pela produtora de celulose Suzano (-0,12%).

DÓLAR EM QUEDA

No mercado cambial, a expectativa de que o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) possa demorar um pouco mais para começar a subir a taxa de juros americana trouxe alívio nesta quinta-feira e derrubou o dólar depois de a moeda ter ultrapassado os R$ 3,60 no início da semana.

A cotação do dólar à vista, referência no mercado financeiro, ficou em R$ 3,545 na venda –uma queda de 2,60%. Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, recuou 1,33%, também para R$ 3,552.

Os investidores seguiram repercutindo positivamente a declaração do presidente do Fed de Nova York, William Dudley, na véspera, de que o início do aperto monetário americano no mês que vem passou a ser "menos convincente" do que há algumas semanas.

"A avaliação é que a atual cautela em relação ao crescimento da China e seus efeitos negativos sobre os mercados globais deve fazer com que o Fed espere um pouco mais para começar a subir os juros nos Estados Unidos", disse Hegedus, da Lopes Filho.

A manutenção do juro americano em seu atual patamar –entre zero e 0,25% ao ano– mantém a atratividade de ativos em países emergentes como o Brasil, que pagam altas taxas de retorno para compensar o risco mais elevado.

Um aperto monetário nos EUA, dizem operadores, deve incentivar o retorno de recursos à economia americana, pressionando a cotação do dólar sobre as moedas emergentes.


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