Folha de S. Paulo


Robôs que trabalham lado a lado com operários chegam à indústria do país

Na cena que eternizou o filme "Tempos Modernos" (1936), o personagem interpretado por Charles Chaplin aperta parafusos repetidamente em uma linha de produção até ser vencido pela velocidade da máquina e ser engolido por ela.

Agora, uma nova geração de robôs que começa a chegar ao Brasil promete acabar com todos os problemas de Carlitos: eles apertam parafusos e, diferentemente de outros equipamentos, são seguros para trabalhar ao lado de seres humanos.

Surgidos nos últimos anos, os chamados "robôs colaborativos" não foram criados só para apertar parafusos.

Podem ser instalados em linhas de montagem de equipamentos de pequeno porte, como eletrônicos e componentes automotivos, ou auxiliar no controle da qualidade de produtos manufaturados.

"Eles conseguem detectar quando tocam em algo, não há o risco de machucarem o trabalhador. Daí vem o lado colaborativo", afirma Fernando Osório, professor do ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP de São Carlos.

"Posso ter o robô ao meu lado, não mais isolado, protegido por cercas."

Rizzo Hahn, presidente da Pollux Automation, empresa de Joinville (SC) responsável por trazer os primeiros colaborativos ao país, diz que eles ainda têm como vantagem a facilidade de instalação.

Pequenos e seguros, podem ser implementados em linhas de montagem já construídas, sem necessidade de grandes modificações.

A companhia, que hoje importa robôs da dinamarquesa Universal Robots, investiu R$ 10 milhões para fechar 2015 com cerca de cem equipamentos instalados em fábricas brasileiras. Para o próximo ano, a intenção é aplicar R$ 40 milhões.

Robôs no mundo

NOVIDADES

Fabricantes estrangeiras de robôs que operam no país também começam a mostrar seus dispositivos colaborativos ao mercado brasileiro.

Na semana passada, a suíça ABB apresentou sua versão, o robô Yumi, em evento em São Paulo. O país será o primeiro da América Latina a receber o dispositivo.

De acordo com Rodrigo Bueno, gerente-geral de Negócios de Robótica da ABB, a expectativa é fechar com até quatro clientes neste ano.

"Vamos começar com algumas empresas com quem já temos conversado e, então, criar cases para mostrar a outras", afirma.

Em setembro, será a vez de a Kuka, da Alemanha, exibir seu LBR iiwa.

As primeiras instalações dos robôs, em duas versões, com carga máxima de 7 ou 14 quilos, devem acontecer apenas em 2016, de acordo com Edouard Mekhalian, diretor da companhia no Brasil.

Para Ulrich Spiesshofer, presidente-executivo da ABB, há diversas aplicações possíveis para a nova tecnologia na indústria do país.

"É uma coisa realmente única. É seguro, não precisa de uma jaula, é fácil de instalar e adaptável", afirma.

EVOLUÇÃO

A busca por inovação levou a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool a instalar o primeiro robô colaborativo do país em sua linha de produção em Joinville, em 2014.

"Os nossos produtos têm trazido mais tecnologia e temos levado também mais tecnologia para o processo", diz Helder Santos, gerente de manufatura da fábrica.

O dispositivo, da Pollux, é utilizado para fazer testes de qualidade das geladeiras para cervejas da marca e "trabalha" em dois turnos, de segunda a sábado.

No dia da visita da reportagem à fábrica, uma operadora trabalhava ao lado do robô, posicionando os equipamentos que deveriam ser avaliados por ele.

"É uma maneira de evitar a fadiga do operador e falhas no processo", afirma.

Ele ressalta que não houve demissões em razão da novidade: os trabalhadores foram redirecionados para outras áreas da produção.

Como toda tecnologia, no entanto, os robôs colaborativos já suscitam debates sobre o fechamento de postos de trabalho que podem gerar.

"É óbvio que, do ponto de vista do trabalhador, existe uma força contrária. Mas temos de colocar na balança", diz Osório.

Para Spiesshofer, da ABB, o propósito da solução é tornar o trabalho mais seguro para os humanos. "O Yumi sempre opera com pessoas."


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