Folha de S. Paulo


Livro conta vida de primeiro superbanqueiro da história

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Retrato do banqueiro Jacob Fugger. feito pelo pintor alemão Albrecht Durer
Retrato do banqueiro Jacob Fugger. feito pelo pintor alemão Albrecht Durer

Mais novo entre dez irmãos, Jacob Fugger foi escolhido ainda pequeno pela mãe para ser padre. A enérgica viúva tinha outros seis filhos varões para cuidar dos prósperos negócios da família e o caçula poderia muito bem seguir a via espiritual, ela calculou, numa espécie de dízimo familiar.

Se o plano tivesse ido adiante, Jacob teria seguido uma vida regida pelo celibato, o dogma e, ironicamente, o voto de pobreza. Mas Barbara, a rígida e astuta matriarca, mudou de ideia sem motivo aparente e Fugger seguiu o caminho dos negócios, tornando-se um dos maiores financistas da história. E, como afirma o jornalista e consultor George Steinmetz, autor de uma biografia recém-lançada nos Estados Unidos, no "homem mais rico que já viveu". Embora tal título seja difícil de comprovar, o livro mostra com riqueza de detalhes e farta pesquisa que Fugger merece, no mínimo, ocupar um lugar de destaque no hall da fama das finanças, talvez como o primeiro superbanqueiro da história.

Sua trajetória oferece um fascinante retrato da evolução dos negócios através dos tempos e seus ingredientes perenes, como a interseção entre dinheiro e poder, o exercício da especulação e a ganância sem limites, entre outros que encontram ecos familiares até os dias de hoje.

Fugger nasceu em 1459 em uma família de mercadores prósperos na cidade de Augsburg, no que atualmente é a Baviera alemã. Ao morrer, em 1525, era o homem mais rico da Europa e um dos mais influentes, tendo desempenhado papel central na criação do Império Habsburgo.

Augsburg, hoje uma pacata cidade mais conhecida pelo teatro de marionetes, era na época um dos principais centros financeiros europeus, livre de controle feudal e bem posicionada na rota comercial entre a Itália e os Países Baixos, além de próxima das minas de prata e cobre da Europa Central.

Liberto de uma vida dedicada à religião, Jacob Fugger foi enviado ainda adolescente pela mãe a Veneza, na época a cidade mais mercantilista do planeta, onde os jovens de famílias ricas iam para aprender os meandros dos negócios e fazer contatos.

Foi lá que nasceu o banqueiro Fugger. Em Veneza ele aprendeu todos os princípios do ofício que o tornaria o homem mais rico de sua época. Não é por acaso que peças básicas do vocabulário bancário usado até hoje em vários idiomas têm origem no italiano, lembra Steinmetz no livro: crédito, débito e banca, são alguns exemplos.

Ao retornar a Augsburg, Fugger encontrou terreno fértil para exercitar as habilidades adquiridas em Veneza, fazendo empréstimos a senhores feudais garantidos pela produção das minas de prata e cobre. Aos 30 anos decretou que dedicaria seus dias a acumular o máximo de riqueza possível, e assim o fez até o último deles.

Entre as práticas inovadoras que colocaram Fugger em vantagem em relação a outros financistas da época, Steinmetz destaca o uso pioneiro das partidas dobradas, hoje um método-padrão da contabilidade, a criação de uma rede de informantes que lembra os serviços de notícias da atualidade e o levantamento de capital para o seu banco com a exploração de contas-poupança.

USURA

Para avançar neste último, bateu de frente com o veto à usura imposto pela Igreja Católica quando introduziu um retorno de 5% por ano aos empréstimos que tomava em Augsburg.

Fugger não desanimou: levou seu projeto diretamente ao papa Leão 10º. Membro da poderosa família de banqueiros Medici, o pontífice cedeu aos argumentos de Fugger e em 1515 a usura foi aprovada, convenientemente redefinida como "lucro adquirido sem trabalho, custo ou risco".

Para Steinmetz, "nascia ali a economia moderna".

Ex-repórter do jornal "Wall Street Journal" e atualmente analista financeiro em Nova York, o autor levou sete anos para reconstituir de forma minuciosa e fluente –apesar do uso exagerado de superlativos como o do título– a época e a vida de um personagem cativante e muitas vezes impiedoso em sua obsessão por acumular riqueza.

Se vivesse hoje, compara Steinmetz, "Fugger poderia ser um oligarca russo, um chefão latino-americano da telefonia ou um barão americano da ferrovia". Em seu epitáfio, escrito pelo próprio, o banqueiro deixa para a posteridade a marca de um ego do tamanho de sua fortuna. "Era incomparável, portanto após a morte não deve ser incluído entre meros mortais."

The Richest Man Who Ever Lived - The Life and Times of Jacob Fugger
AUTOR Greg Steinmetz
EDITORA Simon & Schuster
Quanto US$ 18,40 na Amazon (304 págs.)
AVALIAÇÃO muito bom


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