Folha de S. Paulo


'Workcation', mistura de férias com trabalho, ganha espaço nos EUA

Arquivo Pessoal
Adrian Larssen em suas 'workcations' em Porto Rico
Adrian Larssen em suas 'workcations' em Porto Rico

"É impressionante o que uma mudança de paisagem pode fazer por você."

A areia clara e fofa, o mar de águas calmas e transparentes, o clima caribenho de Porto Rico é deveras inspirador. Mas só se tiver wi-fi.

É que Adrian Larssen, 32, costuma esticar uma canga na praia para trabalhar durante o inverno de Nova York. Foi o jeito que ela encontrou para despressurizar, restaurar o pique e ser feliz sem interromper o expediente.

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A prática tem nome em inglês. Chama "workcation", uma mistura de "work" (trabalho) e "vacation" (férias). É cada vez mais comum no país que não tem férias remuneradas previstas em lei.

Nos Estados Unidos, na ausência de legislação trabalhista, mesmo licenças médicas e de maternidade são descontadas do holerite se o empregador assim quiser.

Não espanta que os americanos queiram dar o seu jeitinho. Trabalhar, mas não no escritório.

Adrian é editora-chefe de aconselhamento profissional na The Muse, uma plataforma digital que ajuda jovens a encontrar trabalho e empresas a encontrar candidatos. Lá, cerca de dez funcionários tiram "workcations" anualmente.

A presidente, Kathryn Minshew, 29, diz ser muito favorável, mas garante que a prática não substitui férias regulares.

"Workcations" podem ser úteis para empresas cuja demanda aumenta em períodos de recesso. Na Uber, já faz parte da cultura empresarial.

Em seu primeiro ano de vida, cinco anos atrás, os então cinco únicos funcionários da empresa resolveram aliviar a tensão que seria o Réveillon trabalhando da praia de Malibu, na Califórnia.

O Ano-Novo é a noite mais movimentada da empresa, que conecta motoristas particulares a passageiros. "O resultado foi uma união incrível e um ambiente extremamente produtivo", conta Fabio Sabba, porta voz da Uber no Brasil.

Hoje, qualquer um dos mais de 3.500 funcionários nos 58 países de atuação pode sugerir um projeto para ser desenvolvido por uma equipe de três a sete pessoas no destino de sua preferência.

Se a proposta for selecionada pela direção, a equipe receberá uma ajuda de custo para refeição e estadia, mas arcará com as passagens aéreas.

No Brasil, onde a Uber se instalou há um ano e meio, uma equipe já conseguiu sua "workcation".

A empresa se orgulha de inovações criadas durante esses retiros como a parceria com a plataforma de música on-line Spotify, em que o passageiro escolhe a trilha sonora de sua viagem pelo mesmo aplicativo que aciona o motorista.

Trabalhando na viagem

SINTOMÁTICO

Uma pesquisa do instituto Ipsos divulgada em junho de 2014 mostrou que 52% dos americanos entrevistados se disseram confiantes que tirariam férias naquele ano, mas apenas 8% de fato tinham desfrutado do benefício até então no ano.

"Os americanos ficam culpados. Pensam: 'Ai, meu Deus, quando voltar, terei acumulado trabalho demais', e com isso simplesmente não deixam o escritório", afirma John de Graaf, presidente de uma organização chamada Take Back Your Time (tome seu tempo de volta), que advoga pelo tempo livre da população.

"É sintomático que as 'workcations' ganhem espaço nas empresas. Não quero condenar a prática, porque sei que, para algumas pessoas, é certamente melhor que nada. Mas a falta de descanso é prejudicial para todos, empresa e empregado."

Graaf nota que a produtividade cai quando o funcionário está submetido a estresse, além de estar mais vulnerável a ter problemas cardíacos e depressão.

A americana Maura Rodgers sabe que "workcations" não são a mesma coisa que férias. Mas, diante da natureza imponderável de seu trabalho ""ela é empreendedora no Canadá–, poder honrar seus compromissos remotamente é libertador, diz. "Quando volto para casa, estou com a cabeça leve, o coração feliz e uma caixa de e-mails sob controle", contou em seu blog.

DICAS PARA UMA "WORKCATION" DE SUCESSO

1. antes de agendar sua viagem, certifique-se de que o destino escolhido tem bom acesso à internet e que o fuso horário não seja incompatível;
2. acorde cedo para que sobrem algumas horas de lazer;
3. compre um pacote de dados de viagem de sua operadora de celular ou, se a viagem for internacional, adquira um chip local. só se não esqueça de informar o seu número para a equipe;
4. um MiFi, roteador de internet portátil, pode ser útil caso a conexão no destino seja instável
5. investir em bons fones de ouvido pode evitar reuniões mal-sucedidas caso esteja em um lugar barulhento

Fonte: empreendedora Maura Rodgers


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