Folha de S. Paulo


Ações da Vale caem mais de 4% e empurram Bolsa para baixo

Lunae Parracho /Reuters
Mina de exploração de minério de ferro da Vale no parque dos Carajás, em Parauapebas, no Pará
Mina de exploração de minério de ferro da Vale no parque dos Carajás, em Parauapebas, no Pará

Depois de duas altas consecutivas, o principal índice da Bolsa brasileira fechou esta quinta-feira (30) em queda, com investidores digerindo balanços de empresas e a sinalização por parte do Banco Central de fim do ciclo de aumento do juro básico.

O Ibovespa cedeu 0,69%, para 49.897 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,858 bilhões. O índice destoou da alta registrada nos mercados acionários europeus, enquanto em Nova York as Bolsas fecharam praticamente estáveis.

"O Ibovespa passou por um ajuste técnico", disse o economista-chefe da INVX Global Eduardo Velho. "A tendência continua de queda", completou. Para ele, o comunicado do Banco Central sobre juros indicando que manterá a Selic no patamar atual por um "período suficientemente prolongado", traz pressão para a Bolsa, pois deixa a taxa de juro real alta por mais tempo.

Ainda de acordo com Velho, a revisão do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre, de queda de 0,2% para alta de 0,6%, reforça a expectativa de alta de juros naquele país já em setembro, a despeito de o PIB do segundo trimestre ter vindo abaixo do esperado. A expansão foi de 2,3% em base anualizada, ante expectativa de 2,7%.

Também pressionou a BM&FBovespa o nível de calote dos brasileiros divulgado pelo Banco Central pela manhã que, apesar de ter registrado ligeiro recuo no mês passado, continua em patamar elevado. O dado colaborou para a queda das ações de bancos. Este é o segmento com maior peso dentro do Ibovespa.

A inadimplência média das operações de crédito no sistema financeiro apresentou queda de 0,1 ponto percentual em junho, para 2,9% do total. O número faz com que os balanços financeiros de Bradesco e Santander fiquem em segundo plano.

A ação preferencial do Bradesco, sem direito a voto, recuou 1,99%, para R$ 27,05. O banco teve lucro líquido contábil de R$ 4,473 bilhões no segundo trimestre do ano, aumento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2014, quando lucrou R$ 3,778 bilhões.

Já o Santander mostrou baixa de 2,42%, para R$ 15,71. O banco registrou retração no volume de operações de crédito no segundo trimestre deste ano, resultante da recessão na economia e do impacto da variação no câmbio nos empréstimos para grandes empresas.

Também no vermelho, a Embraer perdeu 5,46%, a R$ 22,50. A empresa lucrou R$ 339,6 milhões no segundo trimestre do ano, um aumento de 24,9% sobre igual trimestre de 2014, mas a receita e o Ebitda (relação percentual entre geração operacional de caixa e receita líquida) ficaram abaixo do esperado pelo mercado.

Do outro lado, ações de energia elétrica se recuperavam do tombo da véspera. A Cesp subiu 4,48%, seguida por Cemig (2,78%), Energias do Brasil (2,68%), CPFL (3%) e a ação preferencial da Eletrobras (4,04%). Energias do Brasil divulgou na noite passada lucro líquido de R$ 744 milhões no segundo trimestre, um aumento de mais de quatro vezes sobre igual período de 2014.

Após terem começado o dia em alta, refletindo o balanço do segundo trimestre, as ações preferenciais da Vale passaram a cair e fecharam em queda de 4,63%, para R$ 14,41.

A mineradora registrou lucro líquido de R$ 5,14 bilhões no segundo trimestre de 2015, forte avanço de 61,4% na comparação anual. A receita líquida nos meses de abril, maio e junho somou R$ 21,44 bilhões, recuo de 3% na mesma base de comparação. Os custos, por outro lado, subiram 17,7%, passando para R$ 15,97 bilhões.

O Credit Suisse considerou o resultado da Vale bastante forte, destacando redução de custo e preço realizado acima do mercado. O Citi comentou que o Ebitda ajustado, de US$ 2,2 bilhões, ficou acima dos US$ 2 bilhões projetados pela casa e pelo consenso do mercado.

A performance superior veio dos preços realizados do minério de ferro, que melhoraram fortemente. "A administração está entregando suas promessas", disse o Citi em nota.

CÂMBIO

No mercado cambial, o dólar subiu em relação ao real, devolvendo parte da baixa registrada na véspera. Segundo operadores, o avanço refletiu a expectativa por aumento de juros nos Estados Unidos ainda em 2015 e a preocupação com a desaceleração da economia da China.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 0,94% sobre o real, cotado em R$ 3,368 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,20%, para R$ 3,370.

"Quando há expectativa de aumento de juros, isso tende a aliviar a pressão sob o dólar, pois uma taxa mais alta tende a atrair mais recursos de investidores estrangeiros ao país, em busca de melhores retornos. Por isso, a sinalização de que o ciclo de altas da Selic já terminou tende a empurrar a cotação do dólar para cima", disse Ignácio Rey, economista da Guide Investimentos.

"Acredito que ainda tem espaço para o dólar subir um pouco mais, pois não estamos livres de uma piora da crise política no Brasil. Mas não tenho uma projeção tão desfavorável para o real, e vejo a taxa de câmbio entre R$ 3,35 e R$ 3,40 como um nível razoável para o fim deste ano, ainda que possa haver algumas altas mais acentuadas em momentos pontuais de aversão ao risco", completou.

Nesta sessão, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto –operação para estender o prazo dos contratos. A oferta de 6.000 papéis foi totalmente vendida por US$ 292,8 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7.100 swaps.

Com agências de notícias


Endereço da página:

Links no texto: