Folha de S. Paulo


Investidores renovam apetite por notícias e apostam em várias marcas

Niklas Halle'N/AFP
Em operação surpreendente, Financial Times Group é vendido à Nikkei por 844 milhões de libras
Em operação surpreendente, Financial Times Group é vendido à Nikkei por 844 milhões de libras

Depois de uma década que ele preferiria esquecer, o setor de notícias subitamente tem vento a favor. Da surpreendente captura do Financial Times Group pela Nikkei, por 844 milhões de libras, na semana passada, à alta no valor de mercado dos serviços digitais de notícias, os investidores parecem ter reencontrado seu apetite pela notícia.

Eles estão apostando em uma série de marcas. A Vox Media, que opera sites como o Eater, Curbed e Recode, no ano passado obteve US$ 46,5 milhões em capital da General Atlantic, uma companhia de capital privado de Nova York, em uma transação que avaliou a empresa beneficiária em US$ 380 milhões.

O BuzzFeed, plataforma de notícias conhecida por suas listas, atraiu investimento de US$ 50 milhões da Andreessen Horowitz, empresa de capital privado do Vale do Silício, em uma transação que o avaliou em US$ 850 milhões.

Algumas marcas mais antigas estão atraindo avaliações tão generosas quanto as de suas contrapartes digitais. O grupo de educação Pearson, que vendeu o "Financial Times" à Nikkei, é dono de 50% do Economist Group e está negociando a venda de sua participação na revista em uma transação cujo valor pode chegar a 800 milhões de libras.

Dois dos homens mais ricos do mundo também decidiram apoiar o setor. O mexicano Carlos Slim dobrou sua participação no "New York Times" este ano, para quase 17%, depois de exercer opções que ele recebeu em 2009 ao emprestar US$ 250 milhões à companhia. Jeff Bezos, fundador da Amazon, é dono do "Washington Post" há dois anos, tendo comprado o jornal por US$ 250 milhões.

O que convenceu os investidores a reconsiderar o setor de notícias? "Houve muita desordem, mas jamais deixou de existir demanda dos consumidores por conteúdo noticioso de qualidade", diz Jim Bankoff, presidente-executivo da Vox Media.

Outra pista pode vir da atitude da Apple e do Facebook, que criaram serviços de notícias. As duas companhias de tecnologia perceberam que, como os serviços de fotos e os apps de música, notícias podem atrair e reter usuários para seus serviços móveis.

Este ano será o primeiro em que os smartphones responderão por 50% do consumo de notícias, ante 25% em 2012, de acordo com Ken Doctor, analista da Newsonomics. O smartphone "se tornou o ponto de acesso primário para muitos leitores", ele disse.

As marcas de notícias que atraíram mais interesse são as digitais, móveis e mundiais. Para a Nikkei, comprar o "Financial Times" representa uma oportunidade de se expandir em novos mercados, especialmente a Ásia, diz Doctor, onde mercados como a Coreia do Sul, Indonésia e Índia estão crescendo rapidamente. O "Financial Times" oferece à Nikkei "mais peso e mais inteligência sobre como competir", ele afirma.

O BuzzFeed está desenvolvendo seus negócios internacionais e recentemente contratou Janine Gibson, antiga editora do jornal britânico Guardian" nos Estados Unidos, como editora no Reino Unido.

O "New York Times" também reforçou suas operações internacionais e emprega cerca de 60 pessoas em Londres, e planeja contratar mais quatro profissionais para seu T Brand Studio, uma operação de "conteúdo personalizado" comandada pelo departamento de publicidade.

O Politico.com, site que revolucionou a cobertura política norte-americana, também se expandiu para além de seu mercado de origem, e agora oferece uma edição pan-europeia com apoio do grupo de mídia alemão Axel Springer, que por pouco não adquiriu o "Financial Times".

As perspectivas para as marcas de notícias que tenham foco nacional ou não contem com uma estratégia digital estabelecida são menos claras. O "New York Times" e o "Wall Street Journal" têm aspirações nacionais e internacionais, e transformaram as assinaturas digitais em grande negócio.

O "New York Times" tem perto de um milhão de assinantes digitais pagantes, e o "Wall Street Journal" tem 725 mil. Mas a Tribune Publishing, dona de 10 jornais entre os quais o "Los Angeles Times", "Chicago Tribune" e "Baltimore Sun", tinha apenas 67 mil assinantes digitais pagantes para todas as suas publicações, no final do primeiro trimestre, de acordo com dados que a companhia forneceu às autoridades regulatórias.

O mercado mundial para as notícias de negócios se tornou mais competitivo e está sob o domínio de algumas poucas empresas.

"No contexto de uma batalha que é cada vez mais mundial e entre gigantes como a Bloomberg, Thomson Reuters, 'New York Times' e Dow Jones, a união entre a Nikkei e o 'Financial Times' faz sentido", disse Douglas McCabe, analista de mídia da Enders Analysis. "Comprar o 'Financial Times' quer dizer que a Nikkei se torna uma empresa com mais alcance mundial".

Até mesmo o potencial de criar e reter audiências online tem atrativos. A Axel Springer recentemente investiu US$ 20 milhões na Ozy, uma empresa de notícias para o público da geração milênio, adquirindo 16% de suas ações em uma transação que avalia o grupo em US$ 120 milhões.

As marcas de notícias e informação mais cobiçadas pelos investidores têm outra coisa em comum: a audiência. A Vice Media, que conquistou grandes audiências na geração milênio para seus sites e vídeos, levantou US$ 500 milhões em capital junto a investidores no ano passado, entre os quais a A&E Networks e a Technology Crossover Ventures, uma empresa de capital privado do Vale do Silício, em uma transação que a avaliou em US$ 2,5 bilhões.

Alguns investidores abandonaram o setor de notícias, assustados com a queda de vendas em banca e a receita publicitária mais baixa. Mas com empresas como o Facebook e a Apple interessadas em conteúdo noticioso e os compradores atentos a novas e velhas marcas, o setor está sendo redefinido para a era digital.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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