Folha de S. Paulo


Banco Central deve subir juros para 14,25% ao ano, dizem economistas

Fernando Frazão - 24.jul.2012/Folhapress
Taxa de referência para o custo do dinheiro na economia brasileira deve subir nesta noite
Taxa de referência para o custo do dinheiro na economia brasileira deve subir nesta noite

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve aumentar em 0,50 ponto percentual o juro básico (taxa Selic) nesta quarta-feira (29), para 14,25% ao ano, na avaliação de economistas. Caso se confirme, será a sétima alta seguida da Selic.

O aumento de 0,50 ponto percentual da taxa, que serve de referência para o custo do dinheiro na economia brasileira, é a expectativa de 50 dos 58 especialistas entrevistados em pesquisa da agência internacional Bloomberg. Os outros oito veem alta mais moderada da Selic, de 0,25 ponto percentual.

"A atividade econômica está ruim, o desemprego está aumentando e, com o 'abandono' da meta fiscal para este ano, cresceu o risco de rebaixamento do rating brasileiro", diz Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho. "A crise política dificulta a aprovação de medidas de ajuste fiscal. Esse cenário força o Banco Central a manter o rigor na condução da política monetária."

Na terça-feira, a agência de classificação de risco Standard & Poor's revisou para negativa a perspectiva para a nota de crédito brasileira. Isso indica que o país pode ser rebaixado caso não reverta as atuais condições de implementação de sua política fiscal.

Os aumentos seguidos da Selic são a ferramenta usada pelo BC para tentar conter o avanço dos preços. Com o aumento dos juros, a autoridade monetária busca inibir consumo e investimento —que ficam mais caros—, a economia se desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação.

Mas as elevações estão demorando para surtir efeito. A prévia oficial da inflação atingiu, em julho, o maior patamar no acumulado em 12 meses desde dezembro de 2003.

E a valorização do dólar deve continuar pressionando os preços, na avaliação de Patricia Krause, economista da Coface (empresa especializada em seguro de crédito). No ano, a moeda americana acumula alta de 29%.

"Sabia-se que o ano seria de ajustes, mas não se sabia que teria essa apreciação tão grande no câmbio", afirma. "Mas pelo menos o BC mostra, com as altas, que está comprometido com a inflação. Já que o desempenho do PIB deve ser fraco neste ano, o governo ajeita a casa para tentar retomar o crescimento no ano que vem."

PROJEÇÃO

Para a próxima reunião do Copom, marcada para 1º e 2 de setembro, as previsões divergem sobre a possibilidade e a intensidade de uma nova alta de juros. Para José Pena, economista-chefe da Porto Seguros Investimentos, a decisão sobre a nova elevação vai depender fundamentalmente do comportamento de dólar e inflação até lá.

"Olhando para o cenário político, creio que o câmbio vá oscilar bastante. A chance de ficar estável nesse patamar é baixa, porque o Congresso retorna do recesso e vai colocar em pauta votações importantes", diz. Nesse cenário, haveria chance de aumento de 0,25 ponto percentual da Selic na reunião de setembro, afirma Pena. Em seguida, o BC encerraria seu ciclo de aperto monetário, deixando a Selic em 14,5% ao ano.

Por outro lado, complementa, caso o câmbio se comporte e a inflação desacelere, o BC poderia optar por encerrar o ciclo de altas na próxima reunião, o que deixaria a Selic em 14,25% ao ano —em linha com a expectativa dos economistas de instituições financeiras consultados pelo Banco Central no boletim Focus.

Há quem aposte que o Banco Central manterá o ritmo do aperto monetário e promoverá nova alta de 0,50 ponto percentual em setembro. Para Hegedus, da Lopes Filho, este é o cenário mais provável. "A elevação dos juros surte efeito apenas no médio e longo prazo", diz. "Como não há perspectiva clara para a política brasileira, o corte nos juros a partir do próximo ano também deve ocorrer de forma lenta, à medida que os resultados vierem."


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