Folha de S. Paulo


Dólar bate R$ 3,34 e opera no maior nível em mais de 12 anos

Mark Wilson/AFP
Dólar sobe ao maior valor desde 2003 em meio à crise política brasileira e incerteza econômica
Dólar sobe ao maior valor desde 2003 em meio à crise política brasileira e incerteza econômica

Incertezas em relação ao rumo da economia brasileira e cautela com a crise política no país guiam o dólar à terceira alta consecutiva em relação ao real nesta sexta-feira (24). A moeda americana chegou a bater R$ 3,34 logo na abertura dos negócios e opera no maior valor em mais de 12 anos.

Às 14h05 (de Brasília), o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha valorização de 1,14%, para R$ 3,326 na venda. Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, avançava 1,33%, para R$ 3,340. Por ora, ambos estão no maior valor desde março de 2003 e mostram alta acumulada de mais de 4% na semana.

A aversão ao risco também pesa sobre a Bolsa brasileira: o principal índice de ações nacional, o Ibovespa, registrava baixa de 1,91% às 14h05, para 48.856 pontos –renovando, por ora, a menor pontuação desde 16 de março, quando estava em 48.848 pontos. O volume financeiro girava em torno de 3 bilhões. Com este desempenho, a queda acumulada na semana já ultrapassa 6%.

Segundo operadores, o mercado segue digerindo a decisão de corte da meta fiscal do governo brasileiro, anunciada na noite de quarta-feira (22) pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento).

Agora, o governo espera fazer superavit primário de R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB) em 2015. Antes, o alvo era de R$ 66,3 bilhões (1,1% do PIB). Também foi colocado um dispositivo que permitiria ao país incorrer em deficit de até R$ 17,7 bilhões no ano, se as receitas extraordinárias decepcionarem.

Com a perspectiva de que a dívida pública aumente, o Brasil corre risco de perder o chamado grau de investimento –selo de bom pagador, obtido em 2008, quando o país entrou na rota dos grandes investidores. A leitura é que o país terá de conviver com juros elevados por um período mais longo, apesar do impacto da recessão no controle de preços.

Apesar de terem disparado na quinta-feira (23), os juros futuros continuam subindo na BM&F nesta sexta-feira. O contrato de DI com vencimento em janeiro de 2021 segue acima de 13% ao ano, no maior nível em quatro meses.

No câmbio, a atuação do Banco Central não tem conseguido impedir a alta da moeda americana. Nesta sessão, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto –operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6.000 papéis foi totalmente vendida por US$ 293,3 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7.100 swaps.

Mantendo a oferta de até 6.000 contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.

AÇÕES

Das 66 ações do Ibovespa, apenas seis tinham valorização ou estavam no mesmo preço da véspera às 14h05. Os papéis de exportadoras do setor de papel e celulose estavam entre os maiores ganhos, assim como no último pregão, beneficiados pela alta do dólar. Fibria ganhava 0,99%, para R$ 43,96.

As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, perdiam 2,26%, para R$ 9,94, ajudando a derrubar o Ibovespa. O conselho de administração da estatal vai avaliar nesta sexta-feira a reestruturação da Transportadora Associada de Gás (TAG), que controla a malha brasileira de gasodutos da estatal.

A TAG está na lista de ativos que serão negociados pela estatal. Segundo a Folha antecipou, uma das propostas é vender 80% da subsidiária, com transferência do controle.


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