Folha de S. Paulo


Japoneses compram 'Financial Times' por R$ 4,3 bilhões

Niklas Halle'N/AFP
Exemplares do jornal 'Financial Times'
Exemplares do jornal 'Financial Times'

Depois dos rumores dos últimos dias, acabou o mistério: a editora britânica Pearson anunciou a venda do Financial Times Group por £ 844 milhões (US$ 1,3 bilhão, ou R$ 4,32 bilhões) para o grupo de mídia japonês Nikkei Inc.

A transação, anunciada nesta quinta-feira (23), inclui o "Financial Times", considerado por muitos o melhor e mais influente diário econômico do mundo.

O negócio também envolve o site do diário, o "FT.com", e a revista "The Banker", mas não inclui a suntuosa sede do FT na beira do Tâmisa, em Londres, nem os 50% que a editora tem de participação no Economist Group, que edita a revista "The Economist".

A divulgação do acordo interrompeu os trabalhos na Redação do jornal. Por volta das 16h (12h, horário de Brasília), pouco depois de o mercado ser informado do negócio, o editor-chefe, Lionel Barber, reuniu a equipe para comunicar a venda.

"O FT é um ativo de nível mundial. Estou confiante de que vamos trabalhar juntos com nosso novo proprietário para garantir que assim permaneça", afirmou.

No cargo desde 2013, o presidente da Pearson, John Fallon, disse que o grupo decidiu vender o jornal –do qual era dono desde 1957– para priorizar o setor educacional, responsável por 90% da receita.

Diante da queda nos lucros e de dificuldades no mercado americano, a Pearson tem se reestruturado –há dois anos, comprou no Brasil a rede de escolas de idiomas Wizard por R$ 2 bilhões.

Fallon, de fato, nunca se comprometeu em manter o FT no grupo, ao contrário da antecessora, Marjorie Scardino, que, quando no cargo, declarou que a Pearson só venderia o jornal se passassem por cima de seu "cadáver".

"Atingimos um ponto de inflexão na mídia, levado pelo crescimento explosivo do mobile e das redes sociais", disse Fallon. "Nesse novo ambiente, a melhor formar de assegurar o sucesso comercial e jornalístico do FT é ser parte de uma companhia digital global." O acordo deve ser concluído até o fim do ano.

Lançado em 1888, o "Financial Times" tem uma equipe de cerca de 500 jornalistas e ao menos 720 mil assinantes, sendo 70% no digital, e o restante, no impresso.

Criado em 1876, o grupo Nikkei tem 3.000 funcionários e é o maior conglomerado independente de mídia da Ásia. Edita um jornal que leva o mesmo nome, concentrado em economia e negócios, com tiragem diária de 3 milhões de exemplares e considerado um patrimônio pelos japoneses.

O presidente-executivo da empresa, Tsuneo Kita, disse que os dois grupos, Nikkei e FT, dividem "valores jornalísticos" em comum, como "imparcialidade" e "alta qualidade". "Juntos, vamos lutar para contribuir para o desenvolvimento da economia global."

DISPUTA

De certa forma, a compra do FT pelos japoneses pegou o mercado britânico de surpresa. Nos últimos dias, cresceram os rumores de negociação em curso, mas as apostas giravam em torno da editora Alex Springer, responsável pelo jornal alemão "Bild".

Reportagem do próprio "FT" diz que o grupo japonês entrou na disputa nas últimas cinco semanas, enquanto a editora do "Bilt" negociava desde o ano passado.


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