Folha de S. Paulo


Governo terá de cobrir mais uma conta bilionária no setor elétrico

André Corrêa/Agência Senado
O ministro de Minas e Energia Eduardo Braga, em sessão na Comissão de Serviços de Infraestrutura
O ministro de Minas e Energia Eduardo Braga, em sessão na Comissão de Serviços de Infraestrutura

Uma decisão da Justiça forçou o governo a procurar alternativas para cobrir um novo rombo no setor elétrico. A conta que está em aberto é de aproximadamente R$ 2 bilhões ao ano.

Nesta terça-feira (23), o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) esteve no Ministério da Fazenda tentar resolver a questão que envolve a recusa do pagamento de alguns encargos por grandes consumidores de energia.

Segundo Braga, não há risco de que o montante acabe sendo repassado para a conta do consumidor.

"Não há nenhum aumento nem impacto em tarifa. Estamos fazendo é ajuste de fluxo de caixa", disse o ministro.

O valor em questão está relacionado a uma contestação na Justiça feita Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres), que já obteve decisão liminar favorável.

De acordo com o presidente-executivo da associação, Paulo Pedrosa, o processo busca resolver o que ele chama de "acidente legislativo", quando grandes consumidores de energia passaram a pagar dez vezes mais pela chamada CDE (Conta de Desenvolvimento Energético).

O problema, segundo ele, está no rateio dessas despesas que seriam, em parte, cobertas pelo Tesouro Nacional. Neste ano, porém, em função dos cortes, o Tesouro suspendeu repasses para a CDE e todos os gastos da conta foram apenas redistribuídas pelos consumidores, incluindo a indústria.

"Além de ser uma questão de sobrevivência para as empresas, tratamos um problema conceitual. Essa liminar é para proteção, necessária da indústria. Mas nós ainda achamos que o diálogo pode levar a uma solução", afirmou Pedrosa.

"Existe uma visão de que o setor elétrico tem problemas, mas os da indústria são imensamente maiores", completou.

No grupo de associados da Abrace estão grandes nomes, como a Ambev, Braskem, Vale, Votorantim, Nestlé, GM e Gerdau.

A liminar permite que essas empresas deixam de pagar os custos adicionais desse encargo até julgamento final do processo.

Apenas este ano foram repassados para os consumidores, de forma geral, R$ 22 bilhões para cobrir a CDE, principal motivo da elevação das tarifas.

Dentre os gastos previstos por esta conta estão os da manutenção de programas sociais, como a Tarifa Social e o Luz para Todos.

ESTUDOS

De acordo com o ministro Eduardo Braga, a solução para o problema ainda está sendo construída.

"Temos estudos, mas ainda inconclusivos. Esperamos na semana que vem tomar uma decisão sobre o tema", disse ao deixar o Ministério da Fazenda.

Desobrigadas de pagar a CDE, as indústrias gastarão menos com energia, ao tempo em que o governo terá de criar uma forma para repor esse dinheiro e dar continuidade aos programas.

"Estamos discutindo de que forma temos como alongar [os pagamentos] sem que haja algum tipo de impacto ou repasse, mas ainda não conseguimos chegar a uma conclusão", afirmou Braga.

Para o ministro, a liminar está "prejudicando todo o setor" e seu "equilíbrio financeiro".


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