Folha de S. Paulo


Credores avaliam oferta de ajuste grego e pedem 'medidas adicionais'

Reunidos em Bruxelas, os ministros de Finanças da zona do euro disseram ao representante grego neste sábado (11) que Atenas deve ir além de um conjunto inicial de propostas por reformas se quiser reabrir negociações sobre um resgate, informaram fontes.

A exigência vai de encontro ao documento usado como base para a discussão: uma análise das instituições credoras —a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O jornal espanhol "El País" teve acesso ao documento, e informou que nele são pedidas "medidas adicionais" para que seja liberado um terceiro resgate multibilionário à Grécia.

A publicação destacou a seguinte frase do texto: "com a significativa deterioração das condições macroeconômicas e financeiras, [a proposta grega] é insuficiente para alcançar os objetivos fiscais".

A Comissão Europeia e o Banco Central Europeu calculam a necessidade de ajuda em € 74 bilhões, e o FMI, em € 78 bilhões —valores mais altos do que o pedido grego, de € 53,4 bilhões.

Segundo o documento, "na ausência de ajuda por parte do MEE [Mecanismo Europeu de Resgate], o sistema bancário entrará inevitavelmente em colapso e levará a uma contração muito maior da economia grega".

A reunião dos ministros, conhecidos em conjunto como o Eurogrupo, ocorre desde as 15h30 (horário local, 10h30 de Brasília) e é presidida pelo holandês Jeroen Djsselbloem.

Eles fizeram uma pausa de suas discussões plenárias depois de cerca de três horas.

Duas fontes disseram que havia consenso entre os outros 18 ministros em torno da mesa que o governo grego deve tomar mais medidas para convencê-los de que iria honrar quaisquer novas dívidas.

PROPOSTA GREGA

A Grécia apresentou nesta quinta (9) uma proposta que inclui cortes de gastos e reforma da aposentadoria (leia mais abaixo) em linha com o que os credores pediam anteriormente. O ajuste havia sido rejeitado pelo governo e posteriormente por um plebiscito ocorrido no último dia 5.

As exigências dos credores estavam ligadas, no entanto, à liberação de € 7,2 bilhões, última parcela de um empréstimo de € 240 bilhões. Agora, a Grécia concorda com as reformas, mas pede mais € 53,4 bilhões.

Na reunião, as partes tentam também recuperar a confiança perdida pelos vaivéns e surpresas dos cinco últimos meses de negociações.

Um dos críticos à postura grega de maior peso, o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, disse antes da reunião do Eurogrupo que esperava negociações muito difíceis.

Ele não escondeu que o que os gregos colocaram na mesa de negociações não lhe parece suficiente.

Segundo o jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung", a Alemanha estuda propor que a Grécia saia temporariamente da zona do euro.

Grécia

Veja pontos da proposta grega à União Europeia

Superavit primário

Apesar da perspectiva de encolhimento de 3% em 2015, o governo grego propõe aumento progressivo do superavit primário a partir deste ano, para 1%. Em 2016, ele iria para 2%; subiria a 3% em 2017 e a 3,5% em 2018.

Reforma na aposentadoria

Cedendo aos credores, a Grécia subiria a idade efetiva de aposentadoria para 67 anos até 2022. Originalmente, o país propunha 2036 como prazo. A ajuda especial para os mais pobres seria eliminada até 2019.

Imposto sobre as vendas

A proposta grega atende a exigências dos credores ao cobrar um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) único de 23%, com uma quantidade limitada de exceções: a taxa seria de 13% para alimentos básicos, energia, hotéis e água; e de 6% para medicamentos, livros e teatro.

Tributação nas ilhas

A Grécia concorda em eliminar os descontos do IVA sobre ilhas mais turísticas e com as maiores rendas. Mantém, no entanto, exceções para as ilhas "mais remotas". Esse é um dos pontos de discordância com os credores, que querem minimizar as exceções sobre o imposto.

Gastos militares

A Grécia oferece um corte de € 100 milhões em 2015 e de € 200 milhões em 2016, abaixo da exigência dos credores, de € 400 milhões por ano.

Privatizações

O plano grego enviado aos europeus ainda prevê a concessão para a iniciativa privada de ativos do setor elétrico, aeroportos regionais e portos.

Setor público

Salários teriam diminuições a partir de 2019. Benefícios como licenças pagas e verba para viagens seriam reduzidos até se encaixarem às regras da União Europeia. A mobilidade de funcionários de uma vaga para outra aumentaria.

Impostos sobre renda e empresas

O imposto corporativo subiria de 26% para 29%, levantando € 130 milhões por ano -os credores propunham 28% temendo sufocar a economia. Embarcações maiores do que 5 metros pagariam um 'imposto do luxo' de 13%.


Endereço da página:

Links no texto: