Folha de S. Paulo


Governo age para segurar nota de risco do país

Ed Ferreira - 18.jun.2015/Folhapress
O ministro Nelson Barbosa (Planejamento), durante entrevista no Palácio do Planalto
O ministro Nelson Barbosa (Planejamento), durante entrevista no Palácio do Planalto

Preocupada com o fantasma da perda do grau de investimento ainda neste ano, a equipe econômica do governo Dilma tem contatado investidores estrangeiros para tentar reverter o clima negativo sobre as contas públicas.

O país ainda recebe das agências de risco notas que equivalem a um selo de bom pagador, mas, se essa classificação for rebaixada, o Brasil terá que pagar juros mais altos para obter recursos, entre outras consequências.

Votações recentes no Congresso, como o aumento salarial para o Poder Judiciário, podem "colocar em risco nossa classificação no momento em que estamos fazendo esforço fiscal para reequilibrar nossas contas, que talvez tome mais tempo que imaginávamos inicialmente", disse à Folha o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.

Segundo ele, além de elevar os juros, o rebaixamento teria efeito sobre o câmbio, elevando a cotação do dólar.

Editoria de arte/Folhapress

Embora as agências tenham sido criticadas por avaliações erradas na crise global de 2008, suas notas são usadas pelos investidores para balizar suas decisões.

Nesta quinta-feira (02), Barbosa realizou uma série de conversas com investidores em Nova York para reafirmar que as medidas do governo neste mandato devem equilibrar as contas públicas.

A perspectiva é que a agência Moody's rebaixe a nota do Brasil neste semestre, mas ainda assim o país não perderia o selo de bom pagador: ainda está no penúltimo nível do grau de investimento.

O temor, porém, é que a agência também coloque em "negativa" a perspectiva para o Brasil, sinalizando risco maior de perda do grau de investimento no curto prazo.

Assessores da Presidência afirmaram à Folha que trabalham agora para que a agência classifique como "estável" sua perspectiva.

O analista de rating da agência virá ao país para reuniões com o governo brasileiro a partir do dia 13.

Na Fitch Ratings, o país está também um degrau acima da nota mínima: seriam necessários dois rebaixamentos para o Brasil voltar a ser considerada economia de risco e perder o selo de bom pagador, que foi obtido pela primeira vez em 2008.

Na avaliação Standard &Poor's, o Brasil está apenas a uma nota de perder o grau de investimento.

DERROTAS E FIASCO

Além do aumento do Judiciário, que pode elevar os gastos federais em R$ 25,7 bilhões nos próximos quatro anos, o governo teve recentemente duas derrotas fiscais preocupantes: a que estende o aumento real do salário mínimo para todos os benefícios da Previdência e a regra alternativa ao chamado fator previdenciário.

Enquanto tenta desarmar essas bombas fiscais, o governo enfrenta dificuldades para cumprir sua meta de superavit primário (receita menos despesas, descontado o pagamento de juros), por causa da queda da receita diante da retração econômica.

No último levantamento do BC com consultorias, o mercado já projetava que o superavit primário deve fechar o ano em 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto), e não 1,1% como foi prometido.

Agora, alguns analistas já estão revisando para baixo essa previsão –0,5% do PIB.


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