Folha de S. Paulo


Grécia quebrou de novo, diz FMI

O governo da Grécia precisa de novos perdões de dívida, afirmou hoje o FMI. A dívida vai voltar a crescer em ritmo explosivo, "insustentável", nos próximos anos.

Dado o ritmo previsto de crescimento da economia e de contenção de gastos públicos, o governo não será nem mesmo capaz de pagar suas contas e débitos até 2018.

De imediato, é "imperativo" que os credores gregos, União Europeia e FMI, concedam um empréstimo adicional de € 36 bilhões, a taxas de juros cobradas de países com crédito semelhante ao da Alemanha, com longos prazos de carência e vencimento. Mas é muito provável que os gregos precisem de muito mais.

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Mesmo no prognóstico mais otimista do FMI, a dívida pública ainda será o equivalente a 150% do PIB em 2020 (isto é, uma vez e meia o valor da produção ou da renda nacional em um ano, o tamanho da economia, do PIB). Ao final do ano passado, a dívida equivalia a 177% do PIB (a cerca de € 330 bilhões).

A fim de atingir as metas de dívida "sustentável" seria necessário um perdão da dívida.

No mínimo, será preciso dobrar o prazo de carência de pagamento da dívida com a União Europeia para 20 anos e também estender a amortização para 40 anos, além de conceder os € 36 bilhões necessários para cobrir compromissos até 2018.

Mesmo com esse empréstimo extra, a dívida grega permaneceria "muito alta por décadas e altamente vulnerável a choques". Seria portanto necessário um perdão da dívida que permita uma redução da dívida equivalente a 30% do PIB grego a fim de atingir as metas "sustentáveis" definidas no acordo entre Grécia e credores de 2012.

O FMI começa por sugerir um perdão de € 53 bilhões, ao menos. Tais estimativas levam em conta as metas de superávit primário (receitas menos despesas, excluídos pagamentos de juros) e crescimento econômico que vinham sendo discutidas entre credores e gregos até a semana passada.

Tal análise consta do relatório em que o FMI analisa a dívida grega, concluído este ano no mesmo dia em que o governo na prática rompeu as negociações com os credores, convocando um plebiscito para, na prática, ratificar ou não o prosseguimento das negociações. A votação acontece no domingo.

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A Grécia precisa de mais dinheiro, diz o FMI, porque o país não cresceu, porque não cumpriu as metas de economia de despesas (superávit primário) e do plano de reformas que em tese acelerariam o crescimento; porque não conseguiu nem vai conseguir obter dinheiro bastante com privatizações.

A maior parte desse dinheiro viria da venda da participação do governo em bancos, que no entanto estão quebrados ou quase (vão necessitar de injeção de dinheiro, na verdade).

O FMI critica o governo grego, em especial o gabinete liderado pelo Syriza, que tomou posse em janeiro, por não ter cumprido as metas de economia, reformas e privatização.

No entanto, tais metas foram relaxadas até pelos credores, na última rodada de negociação.

Os objetivos principaís pareciam irrealistas para muitos observadores da economia grega. Isto é, superávits primários de 4% ao ano, crescimento econômico de 2% ao ano, impulsionado por reformas que tornariam o crescimento da produtividade grega semelhante ao dos países mais avançados da Europa e equiparariam seu mercado de trabalho ao alemão, em termos de participação e emprego da força de trabalho.


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