Folha de S. Paulo


Grécia dá calote de € 1,6 bilhão no FMI

A expectativa se confirmou e a Grécia não pagou a dívida de € 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) vencida nesta terça-feira (30), transformando-se no primeiro país desenvolvido a dar um calote no Fundo.

Segundo o FMI, o país fica impedido de receber novos financiamentos enquanto estiver devedor. O drama aumenta porque expirou também o socorro de € 245 bilhões dado pelo FMI e pelo BCE (Banco Central Europeu): os gregos ficaram pela primeira vez desde 2010 sem ajuda financeira externa.

O temor de um colapso econômico gera apreensão pelas ruas de Atenas, capital de um país com o maior desemprego da Europa (25%) e dívida pública de quase 180% do PIB (leia mais na pág. A14).

Os bancos seguem fechados em razão do controle de capital (restrição para transações financeiras, com limite no saque em caixas automáticos) imposto pelo governo há dois dias para evitar a insolvência de suas instituições.

Editoria de arte/Folhapress

PROTESTO E PLEBISCITO

Um grande protesto ocorreu à noite no centro de Atenas a favor de um acordo com os credores, aumentando a pressão sobre o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, eleito em janeiro.

Um plebiscito foi convocado para o domingo (5) para aprovar ou não um acordo.

O problema é que, em tese, a proposta em votação –medidas discutidas até sexta passada– não existe mais.

Tsipras tentou uma última cartada na tarde de terça: propôs estender o prazo do programa de resgate, que expirou ontem. Sem essa extensão, eles perdem o direito de receber a última parcela (de € 7,2 bilhões), necessária para pagar FMI, funcionalismo e pensionistas.

Pediu ainda um socorro de dois anos ao ESM (Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira), fundo vinculado à União Europeia e que foi criado três anos depois que a crise grega contaminou outros países da região.

Não deu certo. Os ministros de Finanças do bloco da moeda única, que tem 19 países incluindo a Grécia, negaram a prorrogação. O bloco avisou que deve rediscutir o novo socorro nesta quarta, mas não deu brecha para salvar o país do calote.

O governo da Alemanha se posicionou imediatamente contra o socorro emergencial. A chanceler Angela Merkel quer esperar o plebiscito porque aposta na vitória do "sim", a favor de uma negociação com a zona do euro, enfraquecendo o premiê grego, que faz campanha pelo "não". Na segunda (29), Tsipras, que faz campanha abertamente pelo "não", insinuou que pode renunciar se o "sim" vencer.

Como ainda está aberta a negociação para um novo socorro até sexta-feira (3), não se descarta que o plebiscito seja cancelado –por ora, no entanto, está mantido.

O calote no FMI é o capítulo mais dramático de uma novela de cinco meses de negociação, em que credores exigiam medidas de austeridade fiscais não aceitas pela Grécia. Tsipras foi eleito com discurso contrário a esses cortes, negociados pelos governos de centro-direita durante a crise que atingiu o país nos últimos anos.

Ele chegou a propor um ajuste, considerado insuficiente. As negociações romperam-se de vez no sábado (27), depois que o premiê anunciou na noite anterior a decisão de convocar um plebiscito para o dia 5.


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