Folha de S. Paulo


Não vamos pagar empréstimo do FMI, confirma ministro grego da Economia

A Grécia confirmou ao jornal britânico "Financial Times" que não pagará o empréstimo de 1,55 bilhão de euros ao FMI, que vence nesta terça-feira (30).

Questionado se era correta a informação de que o país não pagaria a instituição, o ministro grego da Economia, George Stathakis, respondeu: "correto".

A possibilidade cada vez mais palpável de que o calote ocorra derrubou as bolsas europeias e asiáticas nesta segunda-feira.

Tecnicamente, o não pagamento não pode ser considerado calote, já que as regras do FMI classificam esse tipo de situação como um "atraso".

De qualquer maneira, o país se juntaria ao grupo dos países em desenvolvimento —Zimbábue, Somália e Cuba— que têm obrigações pendentes com a instituição.

Apesar disso, as agências de classificação de risco afirmam que o não pagamento não é um calote, e é improvável que o Banco Central Europeu decida que significa que a Grécia está falida.

Se isso ocorrer, a maior parte das garantias usadas pelos bancos gregos para obter empréstimos de emergência —particularmente os títulos do governo grego— ficariam sem valor.

Nesse caso, o Banco Central Europeu teria que cortar financiamentos de emergência, forçando, provavelmente, uma saída da Grécia da zona do euro.

PLEBISCITO SERÁ MANTIDO

Apesar da pressão feita pela oposição e pelas associações empresariais, que temem que a Grécia saia da zona do euro, o governo grego mantém também o planejamento do plebiscito do próximo domingo sobre a proposta de acordo dos credores e sua recomendação ao "não" à população.

O ministro do Trabalho grego, Panos Skurletis, ressaltou em entrevista à emissora "Skai" que o objetivo do governo é "reiniciar a negociação com um mandato mais amplo", o que só será conseguido com uma rejeição à proposta oferecida.

Skuerletis alertou que em caso de vitória do "sim", "será dado um fim à negociação" com os credores. A chanceler alemã Angela Merkel descartou nessa segunda-feira a possibilidade de realizar uma reunião de emergência da cúpula europeia antes do plebiscito.

Editoria de Arte/Folhapress

Na consulta que será realizada no domingo, os cidadãos terão que optar entre o respaldo ao projeto de acordo apresentado pelas instituições no Eurogrupo na quinta-feira passada e sua rejeição. O governo pediu votos em massa ao "não".

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pediu, no entanto, que a população votasse pelo sim.

"No dilema entre a submissão (aos credores) e o 'Grexit' (saída da zona do euro), a Grécia escolheu lutar por mais democracia na União Europeia e em nosso país", declarou à televisão pública grega o ministro das Relações Exteriores, Nikos Kotzias, que disse que "a Grécia não tem a intenção de abandonar a zona do euro, mas também não quer aceitar a submissão".

O ministro da Energia e líder do ala radical do Syriza, Panayotis Lafazanis, denunciou que "nunca um país foi alvo de tamanha chantagem pelos centros de poder euroatlânticos" e pediu que o povo "conteste com um 'não' às propostas de exterminação de seus filhos".

O prefeito de Atenas, o independente Yorgos Kaminis, anunciou uma campanha a favor do 'sim' com o apoio do prefeito de Salonica, o também independente Tanis Butaris.

Em declarações à "Skai" o prefeito de Atenas classificou o plebiscito como "uma vergonha para a democracia" porque "o documento sobre o qual supostamente se vota, na realidade não existe".

Grécia

Com isso, disse que o texto do acordo deixará de ter validade a partir de quarta-feira, dia em que Grécia já não estará no resgate, cuja prorrogação vence amanhã.

"Votaremos 'sim', não porque aceitamos um acordo qualquer, mas porque queremos manter o país na Europa", ressaltou Kaminis.

O presidente da Associação de Comerciantes de Atenas, Panayis Karelas, alertou em declarações à imprensa local que a atitude do governo coloca em risco a permanência da Grécia na zona do euro.

"Após cinco meses de negociações sem resultado que afundaram a economia, o governo pede para o povo decidir com um 'sim' ou com um 'não' sobre o futuro do país e põe em risco sua permanência digna na zona do euro", destacou Karelas.


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