Folha de S. Paulo


Presidente da Comissão Europeia pede a gregos que votem 'sim' em plebiscito

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pediu aos gregos nesta segunda-feira (29) que digam "sim" em plebiscito sobre o pacote de reformas proposto pelos credores em troca da liberação de um empréstimo que permitiria ao país pagar 1,6 bilhão de euros ao FMI.

Em meio a um impasse com os credores, o governo grego convocou a votação para o próximo domingo como forma de decidir se aceita ou não o pacote de propostas. O prazo para que a Grécia pague a parcela da dívida ao FMI vai até esta terça-feira (30).

Em resposta a Juncker, o porta-voz do governo grego, Gavriil Sakellaridis, afirmou que "a honestidade é um elemento essencial para indicar boa fé e credibilidade em uma negociação".

Juncker pediu ao premiê Alexis Tsipras "que diga a verdade ao povo grego", seguindo o tom de outras autoridades do continente que colocam sobre a Grécia a responsabilidade por um acordo.

Editoria de Arte/Folhapress

Para Juncker, uma decisão pelo "não" no plebiscito de domingo significaria que a Grécia está dando as costas para a União Europeia".

Após o colapso das conversas entre Atenas e seus credores, Juncker criticou o governo grego, que convocou o plebiscito e aconselhou os gregos a votarem contra as propostas.

"O país inteiro vai considerar um 'não' grego à pergunta apresentada (...) como a Grécia querendo se distanciar da zona do euro e da Europa", disse ele em entrevista à imprensa.

"Eu direi aos gregos a quem amo tanto: vocês não podem cometer suicídio porque vocês têm medo da morte (...) Vocês têm que votar sim, independentemente da questão perguntada."

Juncker disse ainda acreditar que a saída da Grécia da zona do euro não é uma opção, mas alertou que ele sozinho não pode necessariamente proteger Atenas de outros líderes que possam discordar.

Em uma coletiva de imprensa rara, emergencial, na sede da Comissão Europeia em Bruxelas, Juncker analisou o que, segundo ele, foi uma oferta justa feita à Grécia, que era mais socialmente justa do que o governo havia buscado —efetivamente fazendo um apelo passando por cima do primeiro-ministro, Alexis Tsipras.

"Colocar uma democracia contra outras 18 não é uma atitude adequada para a grande nação grega", disse Juncker.

O presidente francês, François Hollande, fez um apelo para que o premiê grego volte a negociar. Em discurso, a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que a ruptura das negociações ocorreu porque do lado grego não havia vontade de compromisso, frente "à oferta generosa" das instituições.

Em carta ao premiê luxemburguês, Xavier Bettel, Tsipras pediu a prorrogação do resgate.

RESTAM POUCAS HORAS, DIZ HOLLANDE

As declarações de Hollande também buscaram deixar claro que a bola está agora com a Grécia.

"Restam algumas horas antes de a negociação ser encerrada de vez, especialmente para a extensão do programa de ajuda grego", disse ele, após uma reunião de gabinete marcada às pressas para tratar da Grécia.

"Se os gregos, se o seu governo, assim decidirem, eu seria favorável à retomada das negociações", disse Hollande, com expressão grave, nos degraus do palácio presidencial do Eliseu.

Hollande, assim como fez seu ministro das Finanças, Michel Sapin, no início da manhã, disse que a França se mantém disposta a ajudar, mas que cabe agora aos gregos decidirem se querem ou não ficar na zona do euro.

Grécia

UE SE BASEIA EM RESPONSABILIDADE, DIZ MERKEL

A chanceler alemã, Angela Merkel, ressaltou em discurso que os princípios básicos da UE são "a solidariedade em troca de responsabilidade" e sua capacidade de encontrar compromissos e rejeitou a possibilidade de abandoná-los a curto prazo perante a crise grega.

"É preciso lutar por esses princípios; poderíamos talvez abandoná-los a curto prazo, dizer simplesmente 'cedemos', mas a meio e longo prazo nos prejudicaríamos" ao perder relevância no mundo, ressaltou Merkel em discurso como parte do 70º aniversário de seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU).

"Fracassa o euro, fracassa a Europa", recalcou a chanceler após agradecer os dias e as noites trabalhadas por seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que recebeu uma ovação de seus companheiros de partido.

Segundo apontou a chanceler, o euro é mais que uma moeda e se baseia "na confiança mútua e em valores comuns".

"Para essa confiança mútua é essencial que, por um lado, sejamos solidários e que, pelo outro, cada um contribua com uma solução para o problema", ressaltou.

Junto a estes princípios, acrescentou Merkel, a Europa "vive de sua capacidade de encontrar compromissos" e se isso acabar, a zona está perdida.

TSIPRAS PEDE PRORROGAÇÃO DE RESGATE

Em pedido ao primeiro-ministro luxemburguês Xavier Bettel, Tsipras pediu que esse "reconsidere" sua posição e aceite conceder a Atenas uma prorrogação do resgate, informou nesta segunda-feira (29) o jornal britânico "Financial Times" (FT).

O veículo publicou uma carta enviada pelo dirigente grego ao Executivo luxemburguês, depois que o Eurogrupo rejeitou estender o programa de ajuda à Grécia.

"Neste contexto, eu gostaria de pedir a seu governo que reavalie sua posição sobre este assunto e apoie a reconsideração do pedido apresentada pela Grécia aos ministros de Finanças da zona do euro", escreveu Tsipras na carta.

O dirigente grego assegurou que "esta decisão" serviria para cumprir com "o objetivo comum" de alcançar "um acordo mutuamente beneficente", ao mesmo tempo que permitiria que a "Grécia volte a experimentar crescimento na zona do euro".

Tsipras pediu o prolongamento da vigência do resgate, que expira na próxima terça-feira, após anunciar a convocação de um plebiscito no qual os cidadãos deverão decidir sobre a proposta de acordo das instituições (Banco Central Europeu, Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional), rejeitada por seu governo.

Com relação à consulta, o primeiro-ministro heleno comunicou a Bettel na carta que seu desejo é que a reunião com os eleitores transcorra em um clima "calmo e positivo" e "sem pressão externa".

Por isso, disse, o governo de Atenas pediu no sábado (27) a extensão de seu programa de ajuda "por um período de um mês desde a data de sua conclusão".

"As negociações —explicou— voltarão a começar na próxima segunda-feira (6) com vistas a conseguir um acordo imediatamente depois em linha com a decisão do povo grego".

"Infelizmente, e por motivos pouco claros, este pedido não foi aceito. Esta decisão, unida à relacionada decisão do BCE que seguiu, teve graves consequências sobre o financiamento do sistema bancário grego e a liquidez da economia grega", acrescentou no texto Tsipras.


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