Folha de S. Paulo


Ajuste fiscal afeta vendas dizem empresários, segundo pesquisa do SPC

Sete em cada dez empresários afirmam que as medidas do ajuste fiscal, feitas pelo governo federal, terão impacto negativo na economia do país e em suas vendas.

Os dados constam de levantamento feito pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) com 822 proprietários ou responsáveis pela gestão financeira de empresas dos setores de comércio e serviços em todo o país.

"Do lado da empresa, os juros mais elevados afetam empréstimos e negócios. Do lado do consumo, o crédito mais restrito e o índice de confiança menor na economia têm impacto direto na disposição de comprar, o que afeta as vendas", diz Roque Pelizzaro Junior, presidente do SPC Brasil.

Essas razões podem explicar, em sua avaliação, porque 76% dos empresários acham que o pacote do governo –com alta dos juros, fim da desoneração da folha e aumento de impostos– deve diminuir as vendas das empresas. Nas regiões Centro-Oeste e Sul, esses percentuais são maiores, 86,6% e 80,3%, respectivamente.

Infográfico Qual será impacto na economia e nos negócios - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

EMPREGO

Além do efeito nos negócios, os empresários também dizem que haverá impacto no emprego: 26% afirmam que terão de demitir. No setor de serviços, quase 30% admitem que terão de cortar pessoal; enquanto no de comércio, são 23,1% com intenção de dispensar funcionários.

O Nordeste é a região onde mais empresas informam que vão demitir (40%). Em seguida, estão Centro-Oeste (28,4%), Sul (27,2%), Sudeste 21,7% e Norte (14,5%).

"As regiões mais industriais e mais ricas sentiram primeiro os efeitos da crise e as demissões ocorreram antes. Agora, com o efeito dominó da economia, são regiões como o Nordeste que sentem mais o reflexo negativo da crise e tem de se ajustar", diz Marcela Ponce Kawauti, economista-chefe do SPC. São empresas, em média, com nove pessoas.

A pesquisa reflete dados constatados no país. Somente em maio, mais de 115 mil vagas com carteira assinada foram fechadas no país. É o pior resultado para o mês de maio desde 1992, segundo o Ministério do Trabalho.

A retração da atividade de vários setores da economia, como indústria, comércio e construção civil, já levou ao fechamento de 244 mil empregos formais no acumulado do ano e à redução de 452,8 mil postos de trabalho nos últimos 12 meses no país.

Infográfico Qual será o impacto?no emprego - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

CONTRÁRIOS ÀS MEDIDAS

Para 61,4% das empresas pesquisadas, os cortes orçamentários não eram necessários e vão significar retrocesso ao país porque devem causar mais problemas para a recuperação da economia e retardar o crescimento do país.

"A maior parte dos empresários está em desacordo com os rumos adotados pelo governo. Eles acreditam que as medidas do ajuste apontam para o caminho errado", diz o presidente do SPC.

Quase sete em cada dez acreditam que os impostos vão aumentar até o final do ano. Entre as consequências desse aumento estão queda no faturamento, retração no consumo e diminuição das vendas, além de impedir o crescimento da empresa. Também citam que os empréstimos bancários estão mais caros, com juros mais altos nos últimos três meses.

"O aperto fiscal e monetário são recessivos no curto prazo e tem efeito amargo tanto para as famílias como para as empresas. É como um remédio amargo, que demorou para ser dado ao paciente para combater a doença", diz a economista da instituição. "A dose agora precisa ser maior para conter o desequilíbrio nas contas públicas e a aceleração da inflação."

Para o economista da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, o ajuste deve potencializar a desaceleração da economia, que ocorre desde o final do ano passado.

"É a tal história: o ajuste vai ser doloroso e afetar os negócios, mas não fazê-lo ia agravar ainda mais a situação e levá-la para a recessão", diz o economista da associação.

A insatisfação dos empresários, diz Solimeo, aumenta porque o corte no orçamento afeta somente os investimentos. "Não se refere aos mais de 20 mil cargos de confiança, nem aos ministérios."

A associação comercial prevê queda de 2% nas vendas do varejo até setembro deste ano, mas o dado pode ser revisto com o agravamento da crise. No ano passado, o comércio fechou com cerca de 3% a 4% de alta, dependendo do segmento, segundo o economista.

CORRUPÇÃO

A corrupção também preocupa a maior parte dos empresários, segundo mostra a pesquisa do SPC: 69,3% acreditam que os escândalos em investigação afetam seus negócios. Desse total, 32,8% dizem que o impacto será grande.

Em média, as 822 empresas que participaram do levantamento possuem nove empregados. Desse total, 53,7% atuam em 11 segmentos do comércio (alimentício, vestuário, supermercado, peças de automóveis, entre outros) e 46,3% atuam em 11 segmentos do setor de serviços (mecânico e automobilístico, hotelaria, borracharia, manutenção de equipamentos, transporte, entre outros).

A maioria está na região Sudeste, com 46,5% das empresas entrevistadas; 19,7% estão no Sul; 18%, no Nordeste e 7,7%, no Norte.

Os dados foram coletados entre 1º e 11 de junho pelo SPC em parceria com a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais para um intervalo de confiança de 95%.


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