Folha de S. Paulo


Clã de empresários argentinos cresce com socorro a brasileiros

Em novembro, começa a operar em Minas Gerais a única fabricante de matéria-prima para chips da América Latina, investimento que o governo federal tentou impulsionar pelas mãos do então sócio Eike Batista e que agora é tocado pelos argentinos da Corporación América.

Dono da segunda maior fortuna da Argentina, o empresário Eduardo Eurnekian, 82, é um antigo conhecido dos empreendedores brasileiros no país vizinho.

Em 2006, quando a Ambev comprou a cervejaria Quilmes, encontrou em Eurnekian o empresário perfeito para assumir a fábrica da Brahma em Luján, operação exigida pelas autoridades para dar aval ao negócio.

Nos últimos anos, porém, o empresário se transformou em importante parceiro também do lado brasileiro da fronteira. Em 2011, quando o império de Eike Batista começava a naufragar, Eurnekian apareceu com um cheque de R$ 200 milhões e assumiu o comando da fábrica de chips.

Neste ano, foi a vez de socorrer a também falimentar Engevix, que cedeu ao argentino o controle dos aeroportos de Brasília e Natal.

Novas aquisições no Brasil podem estar no horizonte, sobretudo com a próxima rodada de concessões de aeroportos lançada pelo governo.

"Vamos olhar todas as oportunidades. Mas queremos crescer com Brasília e Natal e estar fortes para a próxima licitação, que é o que mais nos interessa", afirma Martín Eurnekian, que preside a empresa que controla os 54 aeroportos do grupo.

A compra dos aeroportos brasileiros, avaliada em cerca de R$ 400 milhões (não confirmados pelos Eurnekian), ainda depende da aprovação da Anac e do BNDES. O Cade já deu sinal verde.

No mercado, especula-se que os argentinos buscam um sócio brasileiro para substituir a Engevix. "Gostamos de ter sócios, mas estar ativamente buscando um sócio é outra coisa. Além disso, a operação com a Engevix ainda não foi concretizada", desconversa o executivo.

PARENTES NA CHEFIA

Martín, 37, é o sobrinho mais velho de Eduardo Eurnekian. Sem filhos, o patriarca entregou aos parentes posições-chave. Matias, 30, controla a Unitec, a fábrica de chips, e Hugo, 35, o braço de energia, que neste ano adquiriu 26 campos de exploração da Petrobras em Santa Cruz, no sul da Argentina.

São os três negócios mais relevantes da Corporación América, que também tem vinhedos, parques eólicos e banco e constrói uma ferrovia para atravessar os Andes e alcançar o Pacífico.

Os negócios do grupo argentino no Brasil dependem de uma integração mais fluida entre os principais sócios do Mercosul, hoje considerada congelada por empresários dos dois lados. A fábrica em Ribeirão das Neves (MG) fornecerá 20% da produção para uma unidade em Chascomús, na Argentina.

No ramo dos aeroportos, 3 em cada 10 passageiros dos aeroportos da Corporación América circularam em terminais brasileiros. "Argentina e Brasil se necessitam. Mas não acredito que a relação seja determinante para os nossos negócios", afirma Martín.

As eleições presidenciais na Argentina, que encerrarão um ciclo de 12 anos dos Kirchner no poder, e a debilitada economia brasileira fazem com que a família Eurnekian adote um discurso cauteloso.

"Argentina e Brasil têm futuros promissores", afirma Martín. "A pergunta é se a política de ambos os países vai permitir que esse potencial se execute mais rápido ou lentamente, e essa resposta nós não temos."


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