Folha de S. Paulo


Saudada por Dilma, mandioca tem preço em queda após safra recorde

Saudada pela presidente Dilma Rousseff como "uma das maiores conquistas do Brasil", a mandioca já viveu momentos melhores.

O preço da raiz e de seus derivados despencou por causa de uma safra recorde no início deste ano, o que desencadeou uma crise entre os produtores.

O excesso de oferta fez o produto cair 44% em abril, para R$ 175 a tonelada.

A queda foi maior nos meses anteriores e agricultores, principalmente do Paraná, chegaram a suspender a produção por alguns dias em março, forçando a recuperação do preço.

Dilma fez referência ao alimento (que remonta às raízes indígenas do país) na abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em Brasília. De improviso, tentou explicar a importância dessa herança, mas a frase não foi clara e o vídeo com seu discurso "pró-mandioca" viralizou nas redes sociais.

"Temos a mandioca e aqui nós estamos e, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil", disse.

Em 2014, em decorrência da estiagem, o preço do produto conhecido também como aipim e macaxeira disparou. Animados com a possibilidade de ganhos no ano seguinte, produtores investiram pesado na produção.

Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Mandioca em feira no interior de SP; preços caíram 44% em abril
Mandioca em feira no interior de SP; preços caíram 44% em abril

SEM CLIMA

No entanto, o clima entre os produtores do Paraná, o segundo maior Estado produtor do alimento no país, não é de saudação.

Segundo o presidente do sindicato rural de Cidade Gaúcha (PR), Dourvan Westphal, "os agricultores da região estão quebrados". "Há alguns anos a mandioca deu dinheiro e gente demais plantou."

A fécula de mandioca, que faz o polvilho e é o principal ingrediente do pão de queijo e do biscoito de polvilho, teve, no início de 2015, a maior produção em 12 anos.

A mandioca é a raiz de maior uso no país. Com alto teor energético, seus derivados são encontrados em diversos pratos. A farinha de mandioca faz a farofa e também vai na mistura com a farinha de trigo no preparo do pão francês. A goma da tapioca, tradicional no Norte e no Nordeste, é derivado da mandioca e uma opção sem glúten ao pão de forma.

Além do preço baixo, eles sofrem com custo alto de produção. Por não ser automatizada, a colheita é intensiva em mão de obra.

O custo para o produtor, afirmou Westphal, é de R$ 5.000 por alqueire (24 mil metros quadrados), considerando óleo para as máquinas e o arrendamento de terras. Na hora de vender a produção, o obtido chega a R$ 7.000 por alqueire colhido.

"Considerando a desvalorização do maquinários e os juros pagos, esse valor não compensa", disse Westphal, que foi um dos organizadores de uma mobilização com mais de 250 produtores paranaenses para discutir um preço mínimo para o alimento.


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