Folha de S. Paulo


Indústria de São Paulo perde 17 mil empregos em maio, aponta Fiesp

Luiz Setti / "Jornal Cruzeiro do Sul"
Fila por emprego em Sorocaba
Fila por emprego em Sorocaba

Autopeças, confecções, produtos de metal, montadoras de veículos e usinas de açúcar e etanol. As demissões e férias coletivas de empregados em virtude da crise econômica se pulverizaram pelo interior de São Paulo.

Apenas no mês passado, as indústrias do Estado perderam 17 mil empregos, segundo levantamento divulgado nesta quinta-feira (18) pelo Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

No total, 26 das 36 regiões em que as entidades dividem o Estado tiveram demissões em maio, em setores como o automobilístico, produtos de metal, máquinas e equipamentos e calçadista.

A indústria perdeu, no total, 0,71% de suas vagas no interior, superior à queda de 0,66% registrada na Grande São Paulo. A média do Estado ficou em -0,70%, ante -0,48% de maio de 2014.

As três regiões com pior situação foram as de Sorocaba (-2%), Bauru (-1,9%) e Santo André (-1,8%), graças aos setores de autopeças, confecção e produtos de metal, respectivamente.

"No ano, já são 35 mil vagas a menos, e deve vir mais, pois a situação está se agravando e o ritmo [de demissões] não diminuiu. Não há um indicador que aponte que vá melhorar", disse Guilherme Moreira, gerente do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp.

As demissões ocorrem em um momento em que montadoras como a GM anunciam férias coletivas a 16.650 funcionários de cinco unidades, três delas em São Paulo -São Caetano do Sul, São José dos Campos e Mogi das Cruzes.

As vendas de veículos despencaram 20,9% de janeiro a maio, o pior volume em oito anos, segundo a Anfavea (associação de fabricantes).

Com isso, o setor de autopeças -que fornece para as montadoras- é um dos que sentem os efeitos da crise no Vale do Paraíba, segundo Antonio Ferreira de Barros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

"Até agora, foram 400 demissões, e 2.200 em férias coletivas. O setor de autopeças está sendo bem atingido, pois é forte fornecedor de montadoras. A tendência é piorar muito no segundo semestre. Há um risco grande de demissões", afirmou.

O acumulado do ano aponta queda de 1,41% no nível de empregos industriais no Estado, pior cenário desde 2009 -ano seguinte à eclosão da crise na economia global-, que registrou -1,42%. Em 2014, o nível era de 0,65%.

No mês de maio, a queda foi impulsionada pelos setores coureiro-calçadista, eletroeletrônicos e automobilístico. Dos 22 setores pesquisados, 18 tiveram demissões.

A principal exceção foi o setor de produtos alimentícios, mas, mesmo assim, são vagas sazonais, devido ao início da safra em usinas produtoras de açúcar -2.276 vagas.

Em Piracicaba, a Caterpillar dará férias coletivas a 800 empegados no próximo mês, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos local. Já em Batatais, a Usina Batatais demitiu mais de cem funcionários de seu quadro.

A Usiminas desligou dois fornos, um deles em Cubatão, no litoral, reduzindo a produção de ferro em 120 mil toneladas/mês, segundo o sindicato dos trabalhadores, e quer reduzir a jornada de trabalho e salários.

Outra pesquisa da Fiesp mostra que a falta de demanda fará com que a indústria de transformação corte 32,7% dos investimentos em 2015, o que significa R$ 53,3 bilhões a menos -de R$ 163 bilhões para R$ 109,7 bilhões.

NOVO RUMO

Sertãozinho, que já acumula cerca de 3.000 demissões desde o ano passado, tenta buscar caminhos para amenizar a crise, segundo Antonio Eduardo Tonielo Filho, presidente do Ceise-BR (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis).

Com 60% de ociosidade nas indústrias, o setor conta que as usinas farão o chamado retrofit (melhora energética de suas caldeiras), só que as empresas precisam de financiamentos, cujas dificuldades para obtê-los são uma queixa antiga do setor.

"Perdemos mais vagas em 2014, mas, já tivemos 170 demissões agora, e outras virão. Estamos sendo procurados para estudos, mas negócios não há, até porque as usinas não terão rentabilidade. Devem faturar de 6% a 7% mais, mas os custos de produção vão superar os 10% de aumento", disse Tonielo Filho.


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