Folha de S. Paulo


Empresas aéreas dos EUA atacam rivais do Oriente Médio

As três maiores companhias aéreas norte-americanas deflagraram guerra contra o avanço exponencial das empresas do Oriente Médio sobre o mercado de aviação comercial mundial.

American, United e Delta, também as três maiores do mundo em número de passageiros transportados, pediram ao governo norte-americano que restrinja o número de voos da Emirates, da Qatar e da Etihad para os EUA. Ainda não há decisão a respeito.

A razão do embate: subsídios de US$ 42 bilhões (R$ 131 bilhões) dados pelos Emirados Árabes e pelo Qatar às companhias locais de 2004 a 2014, segundo a Parceria para Céus Abertos e Justos, associação criada pelas três gigantes americanas e entidades como sindicatos de pilotos e de comissários de bordo.

Em 2014, a quantidade de passageiros transportados por quilômetro cresceu 3,1% na América do Norte e 6,3% no mundo; no Oriente Médio, a alta foi de 13,9% -a região foi a única região a ganhar dois dígitos.

DISTORÇÕES

A coalizão aponta concorrência desleal na atuação das companhias do Oriente Médio, com consequente distorção no mercado. Entre os incentivos dos governos, estão empréstimos sem prazo de pagamento nem cobrança de juros, isenção de taxas aeroportuárias e economia com a compra de combustível.

Emirates, Qatar e Etihad também poupam custos trabalhistas -nesses locais, sindicatos não são permitidos, tampouco greves.

Em campanha pesada de mídia, cujo início se deu neste ano, a coalizão argumenta que práticas anticompetitivas das empresas do Oriente Médio ameaçam 11 milhões de empregos nos EUA.

O número de voos entre os países é determinado por acordos bilaterais chamados de "céus abertos". Segundo o grupo americano, graças aos subsídios, Emirates, Qatar e Etihad expandem seus tentáculos ao anunciar voos seguidos para cidades dos EUA, sem que as empresas americanas tenham condição de competir em pé de igualdade e fazer o mesmo. As três, segundo a coalizão, pretendem multiplicar por cinco a quantidade de assentos ofertados entre o golfo Pérsico e os EUA entre 2007 e 2014.

PROTECIONISMO

O outro lado reagiu; o capítulo mais recente da rusga se deu na semana passada, em Miami, onde presidentes de empresas aéreas de todo o mundo se reuniram no encontro anual da Iata, a associação do setor.

Durante abertura oficial do encontro, o presidente-executivo da Qatar, Akbar Al Baker, apontou "protecionismo" das três gigantes americanas e cobrou uma intervenção da Iata sob o argumento de que a campanha ameaça a liberalização no setor.

Para evitar tomar posição em uma guerra cujos lados são ambos fortes, a entidade preferiu se manter neutra.

"A Iata não é o campo de batalha em que será alcançada uma solução", disse Tony Tyler, presidente da entidade, representante de mais de 260 companhias aéreas.

O trio de empresas do Oriente Médio sustenta que qualquer ameaça à liberalização afetará passageiros e a competição entre os países.

"As maiores companhias do mundo querem restringir a escolha do melhor serviço que fornecemos", diz a Etihad, que reagiu com a campanha "Mantenha os Céus Abertos".

Trata-se de uma luta de Davi contra Golias, disse um representante da empresa em maio; o trio aponta que as americanas também receberam subsídio, mais de US$ 70 bilhões nas últimas décadas.

Fabricantes como Boeing e Airbus observam a briga à distância, tal qual a Iata, segundo a qual não lhe cabe se meter na disputa.

Um executivo que acompanha a disputa disse à Folha que por trás do silêncio de ambas está o fato de as companhias do Oriente Médio serem responsáveis pela maioria das encomendas de novos aviões na indústria.

A briga se estenderá por alguns meses, até que o governo norte-americano decida sobre o tema.

O repórter RICARDO GALLO
viajou a convite da Iata (Associação
Internacional de Transporte Aéreo)


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