Folha de S. Paulo


Com volume reduzido, Bolsa segue mau humor externo e fecha em queda

O principal índice de ações da Bolsa brasileira fechou em queda nesta sexta-feira (12), acompanhando o mau humor externo em relação ao impasse entre o governo da Grécia e seus credores para chegar a um acordo sobre a liberação da parcela final de € 7,2 bilhões de verbas do resgate à economia grega.

O Ibovespa recuou 0,64%, para 53.347 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,030 bilhões –abaixo da média diária do mês de junho, de R$ 6,317 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa. Na semana, houve alta de 0,71%. Foi a segunda semana seguida de valorização do índice.

A proximidade do vencimento de opções sobre ações, quando chega ao fim o prazo de contratos que apostam no valor futuro dos papéis, na próxima segunda-feira (15), afetou o mercado nesta sessão, de acordo com analistas.

"Os mercados ficaram parados à espera de uma definição sobre a Grécia. Até agora, não há certeza de nada", comentou o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira. A piora do quadro grego ocorreu na véspera, após o FMI anunciar que estava se retirando das negociações, levando as autoridades europeias a reconhecer, pelo menos internamente, que um calote da dívida grega é provável, segundo analistas.

Internamente, a discussão em torno da possível volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) esteve no radar dos investidores, embora o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenha afastado essa possibilidade.

Os papéis de bancos, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, caíram. O Itaú Unibanco viu sua ação ceder 1,04%, para R$ 33,20, enquanto o papel preferencial do Bradesco, sem direito a voto, perdeu 1,87%, para R$ 27,77. Já o Banco do Brasil teve baixa de 2,47%, para R$ 22,50.

As ações mais negociadas de Petrobras e Vale também ajudaram a empurrar o Ibovespa para baixo. Eles tiveram, respectivamente, desvalorizações de 0,23% e 0,78%, para R$ 13,02 e R$ 17,88, nesta ordem.

Sobre a Petrobras, ainda repercutiu negativamente, segundo analistas, a declaração do diretor de Gás da companhia, Hugo Repsold, à Reuters, anteontem. O executivo afirmou que é "muito difícil" que o plano de negócios para o período entre 2015 e 2019 seja levado para aprovação do conselho de administração da petroleira na reunião prevista para o dia 26 de junho.

"Nossa área de análise segue cética com exposição a companhia, devido ao alto endividamento da mesma, com necessidade de novas captações (US$ 13 bilhões) para este ano, além da interferência governamental. Outro ponto de destaque negativo é que a gasolina, atualizada hoje, está com um desconto de mais de 8% aqui no mercado doméstico, e o diesel um desconto de 1%", disse o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, em relatório.

A ação preferencial da Usiminas (-2,48%) teve desempenho negativo, reagindo à informação que a Justiça de Minas Gerais manteve liminar que suspende a eleição de Lírio Parisotto para uma vaga no conselho de administração da siderúrgica mineira. Parisotto foi eleito na assembleia de abril para um mandato de um ano e dependendo da demora da Justiça para avaliar a questão, ele poderá jamais assumir o posto.

No mercado, a expectativa é que a vaga para qual Parisotto foi eleito seja preenchida não por ele, mas pelo seu suplente, Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec).

Na ponta positiva do Ibovespa ficaram Embraer (+2,94%), Gol (+1,83%) e Santander (+1,61%). A Embraer está otimista com a possibilidade de vender seus aviões para a TAP, depois que a empresa portuguesa foi comprada pelo consórcio formado pelo empresário David Neeleman, dono da brasileira Azul –grande cliente da Embraer– e pelo grupo Barraqueiro, do empresário Humberto Pedrosa.

CÂMBIO

A cautela com a crise grega também ampliou a procura por aplicações consideradas mais seguras, como o dólar, o que estimulou a alta da moeda americana nesta sexta-feira. O avanço foi limitado pela perspectiva dos operadores de entrada de novos recursos no Brasil, diante das captações de companhias e do aumento da taxa básica de juros.

O mercado segue em alerta, no entanto, com o rumo dos juros nos Estados Unidos. As atenções se voltam para a reunião de política monetária do Federal Reserve (banco central americano), na semana que vem. A presidente do Fed, Janet Yellen, já sinalizou que a taxa deve voltar a subir ainda em 2015, após permanecer desde 2008 em seu menor nível histórico, entre zero e 0,25% ao ano.

Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA –que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco– mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.

O dólar comercial, utilizado no comércio exterior, subiu 0,35% sobre o real, cotado em R$ 3,119 na venda. Na semana, porém, houve baixa de 1,02%. Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 0,62% nesta sexta-feira, para R$ 3,115, se ajustando à baixa do dólar comercial na véspera, que foi provocada quando o mercado à vista já estava fechado. Na semana, a desvalorização foi de 1,37%.

Investidores seguiram monitorando a postura do Banco Central brasileiro em relação às ofertas de swap cambial (operação que equivale à venda futura de dólares), após a autoridade monetária ter reduzido, nesta semana, a rolagem do lote de contratos que vence em julho. O BC rolou nesta sexta-feira 6.300 contratos de swap, em uma operação que movimentou US$ 308,3 milhões.

Com Valor


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