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Para Dilma, inflação preocupa e deve ser derrubada logo

Geert Vanden Wijngaert/Associated Press
Dilma com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do Equador, Rafael Correa, em Bruxelas
Dilma com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do Equador, Rafael Correa, em Bruxelas

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (11), em Bruxelas, que a inflação no mês de maio de 8,47%, a mais alta desde 2003, é "atípica" e "preocupa bastante". Para ela, essa alta não deve levar a população a reduzir o consumo.

"Não acho que a população tem de consumir menos. Pelo contrário, acho que a população tem de continuar consumindo", disse aos jornalistas, após participar da cúpula entre a União Europeia e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribe).

Dilma ainda isentou o governo de responsabilidade pelas causas da pressão inflacionária e enumerou fatores que têm acelerado os preços. "A inflação deste ano é uma inflação atípica, é fruto de várias correções. É um objetivo que temos de derrubar e logo. O Brasil não pode conviver com uma taxa alta de inflação, não pode e não vai ", disse a presidente.

William Mur/Editoria de Arte/Folhapress

A inflação medida pelo IPCA teve aceleração em maio, chegando a 8,47% em 12 meses, a maior taxa desde dezembro de 2003 (9,3%). Considerando apenas o mês de maio, a alta foi de 0,74%, acima da apresentada em abril (0,71%).

A presidente citou setores que têm influenciado esse crescimento inflacionário, entre eles a seca no Nordeste e a crise na falta de água no Sudeste.

O ajuste cambial foi outro fator mencionado. "Esse ajuste não fomos nós que provocamos, mas sofremos o efeito dele", disse, comparando a oscilação do dólar entre 2012, a R$ 1,60, e agora, a R$ 3,17.

"Nós estamos extremamente preparados. Acho que houve esse movimento da inflação, e agora estamos tomando todas as medidas para derrubá-la", afirmou Dilma, repetindo o discurso do governo de aposta na recuperação econômica a partir de 2016.

GRÉCIA E ALEMANHA

A presidente teve um encontro reservado em Bruxelas com o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, eleito em janeiro para o cargo, e com a chanceler alemã, Angela Merkel.

Dilma discutiu com Merkel a visita que a alemã fará ao Brasil em agosto. "Fizemos também uma avaliação da recuperação econômica", disse.

Na conversa com Tsipras, tratou da crise financeira grega e da política de austeridade implementada no país nos últimos anos. Ela, no entanto, destacou que o ajuste fiscal do seu governo é "completamente diferente" das medidas da Grécia, que quase foi à falência estatal entre 2009 e 2010.

"Nós temos uma diferença, fazemos ajuste, mas não temos um desequilíbrio estrutural, continuamos com US$ 370 bilhões de reservas e temos um sistema financeiro absolutamente sem bolha. O Brasil não tem um desequilíbrio fiscal estrutural", disse a presidente.

"Todos os países quando sofrem as consequências de uma crise da proporção dessa, têm de fazer os seus ajustes. Além dos nossos problemas internos, a economia internacional, que estava em crise desde 2008, até hoje não se recuperou, está andando de lado", ressaltou.

Ao comentar a crise de 2008, Dilma foi lembrada da declaração do ex-presidente Lula de que aquela turbulência internacional era uma "marola". "Para nós, naquele momento, foi sim, senhor. Mas depois a marola se acumula e vira uma onda. Sabe por que vira onda? Porque o mar não serenou", respondeu.


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