Folha de S. Paulo


Bancária diz a Procuradoria que foi forçada a trabalhar após aborto

Uma ex-funcionária do Itaú em Palmas (TO) relatou ao Ministério Público do Trabalho ter sido impedida de sair da agência em que trabalhava depois de sofrer um aborto espontâneo.

A mulher, que não teve seu nome divulgado, disse em depoimento à procuradora Mayla Alberti que guardou o feto em uma sacola plástica e continuou trabalhando, ensanguentada, por três horas, com receio de perder o emprego.

A empresa afirmou, em nota, que o relato é "estarrecedor" e que apura a denúncia (leia texto abaixo).

O episódio teria ocorrido em 2010, quando a funcionária tinha 30 anos, e só foi denunciado ao órgão trabalhista em 2013, após ela ter sido demitida por justa causa. O banco não informou a causa. Ela fez uma reclamação trabalhista contra o banco, mas não relatou o aborto à época.

Segundo a procuradora, o caso foi descoberto por acaso. "O sindicato dos bancários nos procurou para relatar problemas trabalhistas. Fui ouvindo os trabalhadores e cheguei ao depoimento dela. É um caso que todo mundo conhecia no meio bancário, mas provavelmente ela nunca iria falar sobre isso."

Para a procuradora, é comum que empregados se calem sobre o assédio moral.

O Ministério Público do Trabalho move uma ação civil pública contra o banco por assédio moral organizacional e pede que o Itaú pague multa de R$ 20 milhões por danos morais coletivos.

A funcionária não entrou com pedido de indenização por causa do episódio.

OUTRO LADO

O Itaú afirmou que o caso é "inadmissível na nossa ética e cultura de respeito e valorização dos profissionais". Segundo o banco, as investigações do MPT foram sob sigilo e que só teve acesso aos documentos nesta quarta (3).

"Desta forma, iniciamos a apuração para aplicação das devidas penalidades funcionais, cíveis e trabalhistas." Sobre a ação civil, o banco se diz "disposto a dialogar" sobre "oportunidades de melhoria naquela localidade".

LEIA A ÍNTEGRA DE COMUNICADO ENVIADO PELO BANCO

"Contamos com mais de 94 mil colaboradores no mundo e temos preocupação constante com o bem estar de nossas pessoas. Cumprimos integralmente as leis e normas trabalhistas, contudo, temos consciência de que algumas vezes desvios de conduta podem ocorrer. Quando isso acontece, nossa postura é de transparência e busca da solução do problema identificado. Atualmente, como exemplo, estamos implementando melhorias tecnológicas para nossos sistemas de controle de jornada e mantemos diálogo aberto com os sindicatos sobre a definição e acompanhamento das metas de trabalho de nosso time."

"Além disso, buscamos sempre o diálogo com todos os envolvidos em nossos processos, tais como Ministério Público, Judiciário, Sindicatos e sociedade civil, de forma a construirmos as soluções necessárias, evitando ao máximo a judicialização das demandas."

"No caso da Ação Civil Pública do Estado do Tocantins, estamos dispostos, da mesma forma, a dialogar abertamente sobre as oportunidades de melhoria naquela localidade."


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