Folha de S. Paulo


Lojistas apostam em pontos não tradicionais buscando novos clientes

Pontos de venda incomuns, fora dos shoppings ou tradicionais comércios de rua, têm sido a aposta de empresários para renovar a clientela e cortar custos em ano de economia fraca.

Denise Schneider, 35, decidiu abrir um consultório odontológico dentro de uma escola de ensino fundamental e médio de Alvorada (RS).

Ela conta que já era proprietária de uma unidade da franquia da Ortoplan em um ponto na rua, então procurou uma alternativa.

"Não queria fazer mais do mesmo. Então encontrei um bairro com uma escola com 800 alunos", diz Schneider, que investirá em campanha de marketing e de conscientização sobre saúde bucal para conquistar não só os jovens mas também seus pais.

Para reduzir os riscos de baixa demanda, Schneider escolheu uma escola com espaço que permite à clínica ter uma saída para a rua e atender a clientela externa.

O sócio-fundador e presidente da Ortoplan, Faisal Ismail, diz que a rede aposta em pontos alternativos, mas para isso investe em pesquisa ainda mais extensa sobre o potencial de público.

"E também deixamos claro que o dono do local não pode interferir no nosso negócio, para haver risco de ferir nosso código de ética", diz.

A clínica será aberta nos próximos dias e o custo da franquia é de R$ 80 mil.

CLIENTE DIVIDIDO

Se o empreendedor consegue criar uma loja dentro de uma empresa em que está o seu público principal, os dois lados podem sair ganhando.

O economista Arthur Etgel, 66, é dono de um posto de combustíveis na Pompeia (zona oeste de São Paulo).

Ele decidiu aproveitar o intenso fluxo de clientes para abrir um novo negócio dentro do posto, uma loja da Seletti, de refeições saudáveis.

"Tenho um movimento de cerca de 2.000 carros por dia. Oferecer esse tipo de comodidade é importante para agradar o cliente do posto", diz.

Esta é a primeira franquia da marca em um posto de combustíveis e uma aposta da rede em pontos fora dos grandes centros comerciais.

A versão Seletti FIT tem um tamanho menor, entre 8 e 15 m², e custa R$ 150 mil, um terço dos R$ 450 mil da franquia tradicional.

"Com o momento atual da economia no Brasil é importante ter um modelo mais em conta. É possível expandir mesmo em momento de crise", afirma Luis Felipe Campos, fundador da empresa.

O consultor de marketing do Sebrae-SP Marcello Sinelli diz que a sinergia entre os perfis de clientes é fundamental na hora de avaliar a nova locação.

"Pontos diferentes têm mais riscos, como infraestrutura menor ou mais possibilidade de isolamento", diz Sinelli, que recomenda uma análise cautelosa do perfil da clientela atraída pelo local.

O empresário Hélio Garcia, 49, abriu uma lanchonete do Rei do Mate em uma unidade do magazine de equipamentos esportivos Decathlon.

Karime Xavier/Folhapress
Hélio Garcia tem uma unidade da rede Rei do Mate dentro de uma loja de equipamentos esportivos
Hélio Garcia tem uma unidade da rede Rei do Mate dentro de uma loja de equipamentos esportivos

O que interessou Garcia foi o público do local, que vai de 1.500 pessoas nos dias de semana ao triplo no sábado e no domingo.

"Além de aproveitar o público da loja-mãe, tenho a vantagem de compartilhar alguns custos, como o condomínio, do qual só preciso pagar uma parte", explica.

O Rei do Mate, cuja franquia custa R$ 300 mil, considera que aproximadamente 100 de suas 300 lojas fiquem em pontos fora do comum, como dentro de hospitais, na balsa Rio-Niterói e em empresas com muitos funcionários.

"Vemos isso como uma alternativa de crescimento. O cliente encontra uma loja onde não espera", afirma.

Mas a escolha de pontos diferentes exige adaptação da rede. "É necessário ter um treinamento especial para o atendimento a cada público. Uma unidade dentro de um hospital, por exemplo, exige um atendimento mais sensível", explica.

RISCOS

Uma das principais vantagens da escolha de um ponto fora dos shoppings e ruas tradicionais de comércio é o menor custo do aluguel.

Mas Marcello Sinelli, do Sebrae-SP, alerta que a escolha deve levar em conta também a infraestrutura necessária para o negócio dar certo.

"Não adianta escolher um ponto diferente só porque ele é muito barato. O empreendedor primeiro tem que saber se as suas necessidades fundamentais estarão naquele local, como um estacionamento amplo", exemplifica.

A análise do ponto incomum deve incluir também uma atenção extra à concentração e ao fluxo de pessoas, quesitos já garantidos quando se escolhem pontos tradicionais de comércio.

Essas condições podem mudar muito ao longo de um único dia. "É recomendado que se tenha, no mínimo, de sete a dez dias de observação do ponto", pondera Guilherme Siriani, sócio-diretor da consultoria ba}Stockler.

Outro destaque é a concorrência, que pode ficar mascarada em locais incomuns.

Siriani cita o exemplo dos empresários que abrem lojas dentro de supermercados em busca da clientela local, mas esquecem de avaliar o comércio na vizinhança.

Não é porque há um grande fluxo de pessoas passando por ali que haverá clientes, alerta Siriani.

Por isso, é preciso identificar não só o tipo de público do local para garantir que se adeque ao produto como também se há demanda.

Caminho seguro
Veja se as medidas necessárias para decidir se vale a pena ter uma loja em um local incomum

* O básico
Cheque se o local escolhido é capaz de oferecer a infraestrutura básica para o negócio dar certo (seja cozinha, estacionamento amplo, espaço para estoque et.)

* Observe
Visite o local desejado durante vários dias, em vários horários, para conhecer como é a flutuação do público

* Competição
Não é porque está fora do shopping que não há concorrência; analise se não há lojas nas proximidades que "roubem" os clientes

* Proteção
Exija cláusula de vigência no contrato de aluguel; ela garante que, se o imóvel for vendido, o novo dono é obrigado a respeitar o contrato de locação até o final

* Prazo
Escolher um local diferente sempre é uma aposta de risco: faça um contrato de aluguel mais curto para evitar prolongar o prejuízo

* Licença
Não é qualquer lugar que permite abrir um negócio; verifique se a zona é liberada e como obter a papelada

Fontes: Sebrae-SP e consultoria ba}Stockler


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