Folha de S. Paulo


Brasil e Rússia serão os únicos com queda no PIB, segundo lista da OCDE

Brasil e Rússia deverão ser os únicos de uma lista de 42 países, na sua maioria ricos, a ter queda na economia em 2015, prevê a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) —o "clube dos países ricos".

Os dados foram divulgados no último relatório da entidade sobre perspectivas para a economia mundial, divulgado nesta terça-feira (3), em Paris. Em debate na sede da OCDE, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy foi questionado sobre o impacto do ajuste fiscal —aposta para retomar o crescimento— sobre a educação.

Segundo a organização, o PIB brasileiro este ano vai contrair 0,8%, ainda mais do que os 0,5% de crescimento negativo previstos pela OCDE em março.

Sara Maia/O Povo/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff e o presidente russo, Vladimir Putin, na cúpula dos Brics, em Fortaleza (CE)
Dilma Rousseff e o presidente russo, Vladimir Putin, na cúpula dos Brics de 2014, em Fortaleza (CE)

O Brasil vai voltar a crescer no final deste ano e deverá fechar 2016 com um PIB apenas 1,1% maior. Pior do que a queda brasileira, só a economia da Rússia, que vai contrair 3,1% em 2015 e crescer apenas 0,8% em 2016.

"A Rússia e o Brasil devem sair da recessão e voltar a ter crescimento em 2016, se bem que fraco", diz a OCDE.

PREVISÃO PARA O PIB MUNDIAL CAI

A organização revisou para baixo as previsões de crescimento da economia mundial, de 3,6% para 3,1% em 2015 e de 3,9% para 3,6% em 2016. E atribui a queda à "fraqueza inesperada" no primeiro semestre deste ano, sobretudo com a desaceleração nos Estados Unidos e em países emergentes". Foi o pior desempenho da economia mundial no primeiro trimestre desde que estourou a crise, em 2008.

A recuperação da economia mundial desde a crise de 2008 "tem sido extraordinariamente fraca", disse a OCDE.

Os Estados Unidos vão desacelerar este ano. De um crescimento de 2,4% em 2014, os americanos deverão encerrar 2015 com um PIB de 2%, só recuperando em 2017 (2,8%).

A China, segundo a OCDE, também vai continuar desacelerando: 6.8% em 2015 e 6.7% em 2016. Isso representa uma queda brutal em relação a 2007, quando a China chegou a crescer 14,2%. Desde 2010, o país só desacelera.

A economia japonesa também deverá ter um crescimento menor do que esperado este ano, de 0,7%, contra 0,8% previstos anteriormente. Mas o Japão vai recuperar o fôlego em 2016 com crescimento de 1,4%.

O melhor desempenho entre os 42 países avaliados pela OCDE deverá ser da Índia, com estimativas de um crescimento superior ao da China, de 6,9% em 2015 e 7,6% em 2016.

Já a zona do euro, segundo a OCDE, vai continuar se recuperando, com crescimento prevista de 1,4% este ano e de 2,1% em 2016.

LEVY É QUESTIONADO SOBRE CORTES NA EDUCAÇÃO

Questionado em debate na sede da OCDE sobre cortes na educação –de R$ 9 bilhões, segundo anúncio do final de junho Levy afirmou que investimentos na área são prioritários, e afirmou que o setor está "protegido de cortes".

Os cortes do setor correspondem a 13% do total anunciado pelo governo. Ele fica, dessa forma, em R$ 103 bilhões, acima do mínimo constitucional.

"Nós temos vinculações constitucionais na educação. Essas vinculações obviamente estão sendo cumpridas", afirmou no debate.

MINISTRO COMENTA RESULTADOS

Ao comentar resultados, Joaquim Levy minimizou o impacto das más notícias em relação à economia brasileira – tanto o aumento a 8% no desemprego no trimestre quanto as previsões sombrias de crescimento econômico divulgadas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Sobre desemprego, Levy disse que não viu os últimos números. Mas ele disse que "imagina" que possa o aumento possa ter duas explicações: menor dinamismo na oferta de vagas ou um aumento do número de pessoas voltando a procurar emprego.

"Isso é natural neste momento, as pessoas querendo procurar emprego. Acho que a gente vai ter que passar por este período. O importante é a gente tomar medidas para que a economia realoque recursos", disse o ministro.

Levy reconheceu que num ambiente internacional de crescimento mais lento, "este é um desafio". "A gente tem que estar atento (ao fato) que a economia global não deu uma partida muito significativa".

Sobre as previsões da OCDE, que indicam que Brasil e Rússia serão os únicos, numa lista de 42 países, a ter crescimento negativo em 2015, Levy deixou claro que isso não o surpreendeu.

"Imagino que as projeções OCDE não se desviem muito de outras projeções de mercado. Nós vimos recentemente que o primeiro trimestre foi de retração. A gente já sabia disso até pelas incertezas reinantes no inicio do ano".

Ele reconheceu que o segundo trimestre "foi relativamente difícil".

"O que a gente esta tentando fazer é tentar trabalhar para a gente ter uma recuperação mais rápida possível. Ontem tivemos o anúncio do plano safra (pacote de financiamento agrícola anunciado pela presidente Dilma) e agricultura é um setor importante. Acho que está indo bem e vai colaborar para o crescimento este ano", disse.

Segundo o ministro, o realinhamento de preços tem ajudado e alguns setores começam a se reorganizar.

"A gente vê que resposta incipiente no comércio exterior, no comércio de manufaturas com os Estados Unidos. E o que a gente tem que fazer é trabalhar para esse processo se acelerar. Tivemos na semana passa a questão do setor da construção civil em que o governo, sem prejuízo da liquidez geral da economia, permitiu um folego adicional".


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