Folha de S. Paulo


Empresas têm de olhar da porta para dentro para aumentar produtividade

Para melhorar os ganhos de produtividade, além de adotar medidas que aumentem a qualidade da educação, permitam ajustar o custo da mão de obra e resolvam gargalos nas estradas, nos portos e nos aeroportos, parte dos estudiosos considera que é preciso também olhar para medidas que devem ser tomadas da porta para dentro das empresas.

"Não adianta só dizer que governo deveria investir mais em infraestrutura, que há transferência de mão de obra qualificada do setor industrial para o de serviços e que a força de trabalho está envelhecendo no país. Isso é sabido. O que se vê pouco debate é sobre como a produtividade deveria ser tratada dentro da empresa", diz o professor Hugo Braga Tadeu, da Fundação Dom Cabral.

Editoria de Arte/Folhapress

Aperfeiçoar processos internos, prestar melhor serviço ao cliente (não só olhar para o produto fabricado) e competir com o mercado internacional são fatores que impulsionam a produtividade e forçam as empresas a buscar eficiência, explica.

Empresas de médio e pequeno porte que participaram de um projeto da CNI para organizar a produção conseguiram aumentar em até 40% a produtividade, sem gastar em máquinas ou equipamentos, mas sim arrumando a linha de produção.

"É como se a fábrica fosse uma cozinha. Mas a geladeira ficasse na sala, o fogão, na cozinha, e o lixo, no quarto. Quando se aproxima cada etapa e se arruma a casa, há ganho de tempo e eficiência", afirma Renato Fonseca, gerente da CNI.

Mas ele também destaca que existem medidas que não dependem só da gestão das empresas para aumentar ganhos de eficiência. "A legislação não permite, por exemplo, que o trabalhador mais produtivo ganhe mais. Seria uma forma de estimular quem produz mais e melhor."

Até a mobilidade urbana tem impacto na produtividade do trabalhador, diz Otto Nogami, professor do Insper.

"Perder duas horas no ônibus para chegar à empresa afeta o desempenho e, portanto, a produtividade. Quantas vezes você ouve: 'Já estou cansado e o trabalho nem começou'? A falta de infraestrutura não afeta só a empresa."

A queda na produtividade não preocupa o setor industrial, diz o economista Fabio Silveira, da consultoria GO Associados. "Se em 2014 o efeito foi maior na indústria, agora ele bate com intensidade e contamina o setor de serviços e comércio."


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