Folha de S. Paulo


Time Warner Cable fecha acordo de venda de US$ 57 bi com Charter

A Charter Communications fechou acordo na terça-feira (26) para adquirir a Time Warner Cable, uma rival de porte muito maior, por US$ 56,7 bilhões, uma transação que transformaria a companhia em uma das maiores operadoras de TV a cabo e banda larga dos Estados Unidos.

O anúncio representa a mais recente em uma onda de aquisições no setor, à medida que as empresas lutam para acompanhar as mudanças na forma pela qual os norte-americanos assistem televisão e pagam pelo acesso a ela.

Os consumidores vêm cada vez recorrendo à Internet para assistir a programas de televisão, e as operadoras de cabo estão buscando transações que lhes permitam ganhar escala e maior poder de negociação junto aos provedores de conteúdo.

A oferta bilionária também marca um ponto culminante para a Charter e seu principal acionista, o bilionário magnata da mídia John Malone, 74, que com ela terá transformado a Cable de uma pequena operadora criada em St. Louis em 1993 na segunda maior companhia de TV a cabo dos Estados Unidos, atrás apenas da Comcast.

Os analistas dizem que a oferta da Charter pela Time Warner Cable destaca a necessidade de as operadoras de TV a cabo e banda larga unirem forças, durante a mais recente onda de consolidações no setor.

"O momento da transação claramente demonstra o desespero da Time Warner Cable em ser adquirida", disse Paolo Pescatore, analista da CCS Insight, uma companhia de pesquisa do mercado de tecnologia. "Uma união com outra operadora de TV a cabo faz completo sentido dadas as mudanças na paisagem do setor televisivo".

Sob os termos propostos, a Charter ofereceu aos acionistas da Time Warner Cable US$ 195,71 por ação, em uma transação a ser paga com ações e em dinheiro. Isso avalia a Time Warner Cable em US$ 78,7 bilhões, um ágio de cerca de 14% sobre seu preço de fechamento na sexta-feira (24) (Os mercados de ações norte-americanos ficaram fechados na segunda-feira por conta do feriado do Memorial Day).

Se a transação for concluída, a companhia combinada usará o nome New Charter.

A Charter também confirmou na terça-feira que manteria sua oferta separada, também com pagamento em dinheiro e ações, pela Bright House Networks, uma concorrente de menor porte, em valor de US$ 10,4 bilhões.

As duas aquisições aproximadamente quadruplicariam a base de assinantes da Charter, para cerca de 24 milhões de clientes, ante 27 milhões para a Comcast.

"Com nosso alcance expandido, poderemos acelerar o fornecimento de velocidades de Internet mais altas, experiências de vídeo mais avançadas e produtos de voz plenamente funcionais, a preços altamente competitivos", afirmou Thomas Rutledge, presidente-executivo da Charter, em comunicado, terça-feira.

"A escala da New Charter nos posiciona para oferecer um futuro de comunicação que proverá todo o poder de uma rede de cabos interativa e bidirecional".

Como parte da transação, que deve ser concluída até o final do ano, os acionistas da Time Warner Cable deterão até 44% da nova empresa, de acordo com o comunicado da Charter. Os investidores da Advance/Newhouse, a controladora da Bright House Network, deteriam cerca de 14% da nova companhia; e a Liberty Broadband, de Malone, teria uma participação de 20%.

A Charter há muito vinha buscando adquirir a Time Warner Cable a fim de ganhar mercado no setor de TV a cabo e banda larga norte-americano, que vem passando por rápida consolidação. No entanto, no ano passado esse plano parecia ter sido bloqueado pela Comcast, que ofereceu US$ 45 bilhões para combinar as duas maiores operadoras de TV a cabo do país.

A transação fracassou, porém, quando as autoridades regulatórias e concorrentes expressaram preocupações quanto à possibilidade de que a união das empresas resultasse em preços mais altos para os consumidores e potenciais medidas de bloqueio contra fornecedores de vídeo online como a Netflix.

Os analistas afirmaram que a Charter provavelmente passará por investigação antitruste antes de ver aprovada sua oferta pela Time Warner Cable, ainda que digam ser improvável que ela enfrente resistência semelhante à encontrada pela Comcast.

Em parte isso acontece porque uma combinação entre Charter e Time Warner Cable seria ainda assim menor que a Comcast. A companhia combinada tampouco controlaria ativos extensos de mídia, ao contrário da Comcast, que é dona da NBCUniversal. As duas operadoras de TV a cabo já oferecem serviços semelhantes de cabo e banda larga em diversos Estados, entre os quais Califórnia, Texas e Virgínia.

Para ajudar a bancar a transação, a Charter anunciou a emissão de US$ 5 bilhões em ações da Liberty Broadband, parte do conglomerado de telecomunicações controlado por Malone.

A Time Warner Cable, que opera em 29 Estados norte-americanos, do Maine ao Havaí, é vista como ativo importante para uma empresa que deseja dominar o setor de TV a cabo e banda larga nos Estados Unidos. A companhia foi criada por cisão da Time Warner, em 2009.

A concorrência no setor se intensificou depois que a AT&T anunciou a aquisição da operadora de TV via satélite DirecTV, no ano passado, por US$ 48,5 bilhões, e este mês a Altice, gigante das telecomunicações europeias, adquiriu a Suddenlink, operadora regional de TV a cabo nos Estados Unidos, e conversou preliminarmente com a Time Warner Cable sobre uma possível aquisição. Mas não há expectativa de que a Altice ofereça resistência à oferta rival pela Time Warner Cable.

Na busca de aprovação regulatória à transação, pela Charter, não fica claro se os atuais assinantes da Time Warner Cable verão muita diferença em seus serviços.

Se aprovada, porém, a combinação entre Charter e Time Warner Cable provavelmente terá de investir pesado para acompanhar a Comcast, que está desenvolvendo o chamado serviço X1, que permite que assinantes gravem programas e os transmitam via rede ao aparelho de sua escolha.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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