Folha de S. Paulo


análise

Fim da austeridade é a chave para renascimento grego

Agora tudo depende de Alexis Tsipras.

O primeiro ministro grego vai decidir se quer ou não um acordo com os credores que permita Atenas pagar sua dívida. Se ele disser não, a Grécia entrará em default. Se isso ocorrer, é possível que o país deixe a zona do euro.

O que ele deveria fazer? Tsipras já sabe de suas restrições políticas, por isso vou focar na economia. A resposta curta é: se o acordo for razoável, ele deverá aceitar. Mas onde está o limite entre o razoável e o não razoável?

A parte mais importante do acordo é o ajuste fiscal que os credores exigem da Grécia. A variável é ser observada é o superavit primário –o resultado antes do pagamento dos juros da dívida.

Não existe um número certo ou errado. Mas a experiência mostra que grandes superavit primários são politicamente insustentáveis. Foi a falta de sustentabilidade do acordo anterior entre Grécia, credores europeus e o FMI que levou o Syriza (partido de Tsipras) ao poder.

Ouvi de um especialista respeitável que um superavit primário de 2,5% do PIB funcionaria. Os gregos pediram 1,5%, o que é razoável para uma primeira oferta.

Um dos documentos que circula entre os negociadores menciona 3,5%, o que me parece muito alto. Já um superavit de 4,5% a partir de 2016, como previsto no acordo anterior, é claramente ridículo.

A má administração da economia grega gerou a crise de 2010, mas os credores são responsáveis pela bagunça atual ao insistir em um programa de ajuste economicamente analfabeto.

Eles não levaram em consideração o fato de que a Grécia é uma economia fechada, em que boa parte do PIB é produzida e consumida em casa. Se esse tipo de economia é forçada a uma austeridade extrema durante uma recessão, vai ficar numa armadilha.

A chave para o renascimento da Grécia tem que ser o fim da austeridade. E, por isso, a saída da zona do euro também não é uma solução, porque vai levar a mais aperto fiscal. A Grécia vai ser cortada do mercado de capitais e ficará incapaz de gerenciar seu deficit.

O que deveria acontecer agora é que o já deveria ter acontecido em 2010 e 2012, quando o primeiro e o segundo programas de empréstimo da Grécia foram acertados. Deve ser permitido que Atenas dê o calote.

Mas, em vez disso, os credores ofereceram ao país um pacto perigoso: ajudaram a rolar a dívida desde que com superavit primários excessivos no futuro.

O que vai acontecer se Tsipras receber um acordo como esse e aceitar? A Grécia vai sobreviver até julho sem dar o default, mas vai precisar de um terceiro programa de ajuda financeira.

A possibilidade de esse processo descarrilhar é alta. E os investidores devem saber disso.

É por isso que estou cético a uma nova rodada de desonestidade em que governos e bancos garantem um empréstimo com plena consciência de que nunca será pago.


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