Folha de S. Paulo


Safra de laranja 'encolhe' e preço ao consumidor pode subir

Um censo inédito da citricultura aponta um cenário difícil: os pomares de laranja atingiram em 2014 a menor área de novos plantios em 20 anos, o greening é uma preocupação cada vez maior e a safra 2015/16 será inferior às de anos anteriores.

Os dados fazem parte de estudo divulgado nesta terça (19) pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) em Araraquara, que indicam, segundo empresários ouvidos pela Folha, que o preço ao consumidor pode aumentar nos próximos meses.

Setor que convive com crise desde 2011, a citricultura deve colher, na safra 2015/16, 278,9 milhões de caixas de 40,8 quilos, inferior às 308,8 milhões da safra passada.

Edson Silva/Folhapress
Supervisor de exploração agrícola Paulo Henrique Santin, 45, mostra pé com parte da planta contaminado pelo greening
Paulo Henrique Santin, 45, mostra pé com parte da planta contaminado pelo greening

Isso se explica pela queda de novos plantios da fruta no cinturão citrícola -São Paulo, Triângulo Mineiro e sudoeste de Minas Gerais.

Em 2014, foram plantados somente 9,35 mil hectares, ante 17,77 mil em 2013 e os distantes 40,33 mil de 2008, ano recordista, segundo Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus.

Além dos preços considerados baixos para a cultura, citricultores têm abandonado a laranja devido à incidência de greening -considerada a pior doença da citricultura-, que já atinge um em cada 50 pés da fruta.

"Além do greening, o baixo preço pago e a alta dos custos fazem o produtor perder o estímulo. O processo não parou desde 2011", disse Marco Antônio dos Santos, citricultor e presidente da Câmara Setorial de Citricultura do Ministério da Agricultura.

Segundo Ayres, o índice de 2% de infestação por greening preocupa porque a estimativa é que 90% dos psilídeos (insetos) estejam em áreas abandonadas. "É como a dengue, combater sozinho não tem resultado. É preciso que a ação seja conjunta."

Com menos laranja no mercado em relação a anos anteriores, a tendência é que o preço suba. A laranja pêra, por exemplo, é comercializada a R$ 15,77, ante R$ 12,59 do mesmo mês de 2014, segundo o Cepea, da Esalq/USP.

INDÚSTRIA

As indústrias de suco de laranja preveem processar 27,7% menos laranjas neste ano em relação a 2014. Com isso, o estoque de suco cairá.

A previsão é que chegue ao próximo mês com 447 mil toneladas em estoque, volume que deve atingir 183 mil em 2016 com a atual previsão de safra, o que significaria o menor estoque desde 2010.

Questionado pela Folha, o diretor-executivo da Citrus-BR, Ibiapaba Netto, disse que a produção de suco deverá cair de 1,122 milhão de toneladas na safra anterior para 810 mil toneladas na temporada 2015/16 e que isso deve impactar nos estoques do próximo ano.

Segundo ele, a indústria deve absorver 218,9 milhões de caixas do total estimado -o restante, 60 milhões, deve ser destinado ao mercado interno. Na safra passada, a indústria processou 250 milhões de caixas.

O estudo do Fundecitrus ainda apontou que o total de plantas produtivas chega a 174,13 milhões e que a produtividade média de cada uma é de 1,6 caixa de 40,8 quilos.

A entidade investiu R$ 9,4 milhões desde setembro no estudo. Foram visitados 481 municípios, e os 151 profissionais envolvidos percorreram mais de um milhão de quilômetros. O levantamento foi feito em parceria com instituições como USP e Unesp.


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