Folha de S. Paulo


Equipe econômica já se prepara para a segunda onda de pressão política

Definido o valor do corte de gastos e aprovadas as medidas do ajuste fiscal no Congresso, a equipe econômica já se prepara para uma onda de pressões no meio do ano, diante da retração da atividade econômica do país.

Até agora, as equipes de Joaquim Levy (Fazenda) e Alexandre Tombini (Banco Central) vivem mais um período de trégua do que de críticas dentro do governo, já que a prioridade é corrigir o rumo da política econômica brasileira para resgatar a confiança dos investidores.

Pedro Ladeira - 27.nov.2014/Folhapress
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que já se preparam para pressões no segundo semestre
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa

Mas a tendência, na avaliação da equipe de Tombini e Levy, é que os ventos mudem e a artilharia contra a atual política econômica –focada em ajuste fiscal e aperto nos juros– cresça quando aumentar a sensação de que a economia "está no chão" e o desemprego em alta.

Segundo um assessor presidencial, isto vai acontecer no momento em que a inflação começar a cair, a partir de maio, e o ajuste fiscal já estiver implementado, estimulando a ala política do governo a pedir flexibilização no receituário ortodoxo.

Aí, a equipe econômica será alvo de pressões principalmente para afrouxar a política monetária e também para liberar gastos públicos para tentar reverter o quadro de desaceleração da economia.

No Palácio do Planalto, o maior pesadelo da ala política é que as estimativas mais pessimistas do mercado se confirmem e a retração da economia brasileira chegue aos 2% neste ano.

ÂNCORA

A equipe econômica não acredita num recuo desta magnitude. Diz que essa possibilidade "não existe" e trabalha com algo mais na casa de 1%, o que já será uma desaceleração forte, suficiente para despertar dentro do Planalto as primeiras críticas, ainda um pouco tímidas, ao aperto monetário do BC.

Críticas que devem aumentar porque a equipe de Tombini já sinalizou que seguirá subindo a taxa de juros, hoje em 13,25% ao ano, mesmo num momento de forte retração da economia.

O BC tem sinalizado que, neste momento, seu foco é levar a inflação para o centro da meta de 4,5% ao final de 2016. E que não pretende ceder à artilharia, quando ela aumentar, por considerar que se não conseguir ancorar as expectativas nesta direção nos próximos meses perderá novamente a batalha.

Os problemas do governo, contudo, não estão restritos à condução da política econômica. Outro pesadelo a atormentar a equipe de Dilma são os reflexos da Operação Lava Jato sobre a saúde financeira das empreiteiras.

A cada novidade nas investigações, como a delação de Ricardo Pessoa, da UTC, aumenta o risco de quebradeira no setor. Um complicador a mais para a fraca atividade econômica do país e para o futuro do plano de concessões que Dilma vai lançar para tirar o país do chão.


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