Folha de S. Paulo


'Índice de infelicidade' do brasileiro é o maior em 9 anos

A sensação de bem-estar da população brasileira medida pelo "índice de infelicidade" –soma das taxas de desemprego e inflação– atingiu no primeiro trimestre de 2015 seu pior patamar em mais de nove anos.

Entre os três últimos meses de 2014 e os três primeiros deste ano, o indicador (também conhecido como "índice de miséria") saltou de 13,5 para 15,5 pontos. Trata-se do maior nível registrado desde o último trimestre de 2005, segundo a LCA Consultores.

O cálculo considerou a inflação, acumulada em 12 meses, de 8,1% em março e a taxa de desemprego de 7,3% (com ajuste sazonal), entre janeiro e março deste ano, segundo a Pnad Contínua, pesquisa que mede o nível de ocupação em todo o país.

Editoria de arte/Folhapress

Embora a nova pesquisa de desemprego do IBGE tenha dados a partir de 2012, a LCA construiu uma série mais longa da Pnad Contínua, desde 1995, feita com base em outras estatísticas oficiais.

A partir dessas estimativas de desemprego, a consultoria calculou o "índice de infelicidade" trimestral nas últimas duas décadas no país.

Os dados indicam que o salto de dois pontos percentuais sofrido pelo indicador na virada entre 2014 e 2015 foi o mais elevado em 12 anos.

Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, a deterioração abrupta ajuda a explicar a forte erosão da popularidade do governo de Dilma Rousseff no período.

"O 'índice de miséria' é uma boa medida de bem-estar social e tem uma alta correlação com a popularidade do governo", diz Borges.

Embora a inflação –que corrói o poder de compra da população– já tivesse iniciado uma trajetória de alta nos últimos anos, o desemprego permanecia baixo.

A piora da situação econômica, no entanto, tem revertido esse quadro.

Como a expectativa é que o desemprego continue subindo nos próximos meses e a inflação permaneça alta, o "índice de infelicidade" deve subir ainda mais.

Isso significa que a avaliação do governo Dilma poderá voltar a piorar.

Em abril, apenas 13% dos eleitores consideravam a administração petista boa ou ótima, segundo pesquisa feita pelo Datafolha.

A taxa só é comparável à dos piores momentos de Itamar Franco (12% de aprovação em novembro de 1993) e Fernando Henrique Cardoso (13%, em setembro de 1999).

MAU HUMOR E PANELAÇO

Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, é improvável que a taxa de aprovação do governo tenha novo recuo significativo, por já se encontrar em nível muito baixo. Mas ele acredita que a nota que a população atribui à administração petista pode continuar caindo.

"Isso poderá levar a uma indisposição ainda maior com o governo, mais mau humor, mais panelaço", diz Melo.

Para o especialista, é difícil prever se esse movimento, se confirmado, fortaleceria grupos que defendem o impeachment de Dilma. Mas, segundo ele, enfraqueceria ainda mais a presidente em sua relação com o Congresso.


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