Folha de S. Paulo


Após salto no lucro, Nissan promete aumentar produção no Japão

A Nissan na quarta-feira prometeu que restauraria sua produção nacional de veículos no Japão para mais de um milhão de unidades em 2016-2017, uma decisão vista por analistas como um gesto de boa vontade política com relação ao governo de Shinzo Abe.

Carlos Ghosn, o presidente-executivo da Renault, revelou os novos planos de produção no momento em que a empresa anunciava lucro líquido de 457,67 bilhões de ienes (US$ 3,8 bilhões) no ano fiscal encerrado em março de 2015, um avanço de 17,6% ante os 12 meses anteriores. O faturamento subiu em 8,5%, para 11,4 trilhões de ienes.

A melhora no desempenho da empresa foi gerada basicamente por conta da fraqueza do iene, o que eleva o valor de seu faturamento no exterior, e por um ano recorde de vendas para a montadora nos Estados Unidos, onde ela ultrapassou a Honda e se tornou a quinta maior fabricante de automóveis.

Ghosn disse que a Nissan cresceria mais rápido que a média do setor automobilístico, no ano fiscal que se encerra em março de 2016, ainda que tenha alertado que circunstâncias adversas poderão afetar as vendas no Japão, Rússia e Brasil.

A elevação da meta de produção no Japão busca explorar a fraqueza continuada do iene, apagar as lembranças quanto ao total de apenas 880.887 veículos montados pela empresa no país no ano passado, e levar a companhia ao terceiro ano consecutivo de recorde no lucro.

A reordenação é parte de uma tendência mais ampla de "repatriação" de produção pelas companhias japonesas, liderada por grupos fabricantes de máquinas elétricas.

O ano passado foi o primeiro em pelo menos duas décadas no qual as fábricas japonesas da Nissan montaram menos de um milhão de veículos - uma queda mal recebida por um governo ansioso para demonstrar que sua reforma econômica, conhecida como "Abenomics", estava revigorando o mercado de trabalho nacional.

"O fato de que a produção tenha caído abaixo das 900 mil unidades foi provavelmente um pouco delicado para o governo japonês, que sente ter feito muito para apoiar a indústria automobilística", disse Christopher Richter, analista sênior da CLSA em Tóquio.

Ele acrescentou que a promessa da Nissan de elevar a produção no país seguia uma decisão semelhante da parte da Toyota.

Ghosn reconheceu que a China, o maior mercado automobilístico mundial e no qual a Nissan é a marca mais vendida entre as montadoras japonesas, vinha experimentando pressões de preço.

Os analistas dizem que o mercado de veículos chinês está se tornando cada vez mais difícil de prever, diante do pano de fundo da desaceleração econômica e da incerteza cada vez mais profunda quanto ao efeito das medidas de estímulo de Pequim sobre o consumo.

"Não estou preocupado, mas a concorrência se tornou muito mais séria", disse Ghosn, prevendo que as vendas Nissan cresceriam 6,4% em termos de volume na segunda maior economia mundial, em 2015-2016.

A estratégia da Nissan na China inclui o lançamento, ainda este ano, do sedã esportivo Lannia, projetado especificamente para atrair os motoristas chineses da casa dos 20 e 30 anos.

A Nissan anunciou que antecipa vender 5,55 milhões de veículos mundialmente no ano fiscal em curso, ante 5,3 milhões no anterior.

A companhia quer atingir lucro líquido de 485 bilhões de ienes em 2015-2016.

As metas da Nissan tomam por base uma cotação de 115 ienes por dólar, ainda que muitos economistas tenham previsto que o câmbio estará mais perto dos 130 ienes por dólar no final de 2015.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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