Folha de S. Paulo


Dilma admite dificuldades na economia e no setor automotivo

Em meio ao cenário de desaquecimento da economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff participou nesta terça-feira (28) da inauguração do Polo Automotivo Jeep, na região metropolitana do Recife.

Dilma reconheceu as dificuldades da economia e do setor automotivo e afirmou que seu governo irá trabalhar para manter a demanda de consumo.

"Falo isso não ignorando as dificuldades e desaceleração que o Brasil passa neste momento, mas dentro da certeza do compromisso e do empenho do meu governo em trabalhar para aprimorar as bases para garantir o crescimento da demanda", disse a presidente durante o evento em Goiana (PE), a 66 km do Recife.

Dilma também voltou a defender os ajustes fiscais de seu governo. "Tais ajustes não vão ofuscar o fato de que a indústria automotiva no Brasil hoje deu um passo à frente, está mais globalizada", afirmou.

Em 2014, a venda de carros caiu 7,1%, registrando o pior desempenho em 12 anos; a produção teve retração de 15,3%; e a indústria automotiva demitiu 12,3 mil pessoas.

No primeiro bimestre de 2015, houve queda de 23,1% no total de vendas de veículos em relação a igual período no ano passado.

A estimativa da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) para este ano é de queda de 10% nas vendas de carros zero quilômetro.

'PATERNIDADE'

Ao lado do governador Paulo Câmara (PSB), Dilma buscou dividir com o governo estadual o mérito por atrair a instalação da fábrica para Pernambuco. Desde 2012, o empreendimento vinha sendo alvo de disputa de "paternidade" entre governos federal e estadual.

"É fundamental voltar à história e relembrar a importância de dois pernambucanos, o ex-governador deste Estado Eduardo Campos (PSB) e o ex-presidente Lula (PT), ambos nordestinos e comprometidos com o desenvolvimento de Pernambuco, ambos pernambucanos", disse a presidente.

Contudo, ela não deixou de destacar a participação do governo federal. "A escolha de Goiana decorre também de uma decisão clara do governo federal de ajuda e de suporte a uma política, como eu disse, de desenvolvimento regional, e que permite que o povo de Pernambuco passe a ter aqui um polo industrial automotivo de imenso impacto para a geração de emprego e crescimento do Estado", afirmou.

Segundo a presidente, dois terços dos recursos investidos na fábrica foram concedidos por meio de crédito do BNDES e por fundos constitucionais. Além disso, o governo concederá à fábrica incentivos tributários até 2020, em forma de crédito de IPI.

Já o governo estadual gastou, em contrapartida, R$ 97 milhões para fazer a terraplanagem da área e concedeu crédito presumido de 95% do ICMS à empresa.

Em seu discurso, Dilma também destacou outros investimentos do governo federal no Estado, como no complexo portuário e industrial de Suape, no estaleiro Atlântico Sul e na refinaria Abreu e Lima –obra da Petrobras investigada na Operação Lava Jato, que apura corrupção na estatal.

"Tenho orgulho de dizer que a Petrobras está não só apurando, mas virando uma página na questão da Operação Lava Jato. Quero me referir aqui à refinaria Abreu e Lima [...]. Sua importância vai muito além do aumento da produção de diesel no Brasil. A existência dessa refinaria vai permitir a implantação de um polo industrial de excepcional localização", afirmou.

ARCO METROPOLITANO

Dilma aproveitou a solenidade para anunciar que na segunda-feira (27) foi concedida a licença prévia para um trecho do Arco Metropolitano do Recife, obra viária que foi assumida pelo governo federal como contrapartida para a instalação da fábrica da Jeep.

Este é o primeiro passo para lançamento do edital de licitação para contratar a empresa que fará o projeto executivo e execução das obras, que ainda não tem data definida.

Estratégica para escoar a produção do novo empreendimento, a obra deveria ter sido entregue até a inauguração da fábrica, mas ainda não saiu do papel.

O anel viário de 77 km que ligaria a fábrica, no norte do Estado, ao porto de Suape, no litoral sul, seria feito pelo governo do Estado, mas o governo federal assumiu a responsabilidade em 2013.

No ano passado, contudo, a licitação foi suspensa por problemas com o licenciamento ambiental. Até o final de 2013, a obra estava orçada em R$ 1,2 bilhão.

FÁBRICA

Um empreendimento de R$ 7 bilhões, o Polo Automotivo Jeep em Goiana (PE) é a primeira fábrica inaugurada pelo grupo FCA (Fiat Chrysler Automobile) desde a fusão entre a Fiat e a Chrysler, que ocorreu em outubro de 2014.

O primeiro modelo produzido na nova fábrica será o Jeep Renegade, em versões que variam de R$ 69.900 a R$ 116.900.

A expectativa é que até o fim deste ano sejam fabricados entre 50 mil e 60 mil veículos.

O polo automotivo terá capacidade de produzir até 250 mil veículos por ano, meta que deve ser atingida a partir de 2017, segundo a empresa.

Atualmente a fábrica emprega cerca de 5.300 funcionários, e prevê chegar a 9.000 até o fim de 2014.


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