Folha de S. Paulo


BC deve manter em 0,5 ponto ritmo de aumento dos juros

O Banco Central deve manter o aperto na taxa de juros de 0,50 ponto percentual para evitar que a correção dos preços administrados realizada pelo governo no primeiro trimestre, como tarifas de energia e combustíveis, se transforme num processo de repasse mais forte dos reajustes para outros tipos de preços da economia.

Em compensação, o aperto monetário mais duro neste momento, combinado com um rigoroso ajuste fiscal, pode abrir espaço para que o BC comece a reduzir ainda no final do ano a taxa de juros, que pode subir na quarta (29) de 12,75% para 13,25% anuais.

A avaliação é de assessores presidenciais, para quem o Copom (Comitê de Política Monetária) está "vigilante" e vai analisar detalhadamente se há o risco de a "correção de preços virar um processo de reajuste mais contínuo", tornando ainda mais difícil a meta de levar a inflação para 4,5% no final de 2016.

Segundo a Folha apurou, a equipe da presidente Dilma considera que é melhor fazer todo o "serviço sujo" agora neste primeiro semestre, tanto na política monetária quanto na fiscal, para garantir uma queda mais forte da inflação e abrir espaço para afrouxar o aperto nos juros no fim de 2015.

A única possibilidade de o Copom acabar optando por um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, segundo um auxiliar presidencial, é se ele considerar que está perdendo força o processo de repasse dos últimos aumentos de preços administrados para o resto da economia.

Por enquanto, a prévia do IPCA-15 não indica essa tendência, recomendando a manutenção da "vigilância" do Banco Central. O índice ficou levemente acima das previsões, ao bater em 1,07%.

No Palácio do Planalto, a avaliação é que a inflação de abril, apesar de estar desacelerando, ainda está muito alta. Uma queda mais forte é esperada apenas a partir de maio, quando o índice mensal ficaria abaixo de 1%.

Em março, a inflação foi de 1,32%, batendo na taxa acumulada de 12 meses em 8,13%, bem acima do teto da meta, de 6,5%, e mais distante do seu centro, de 4,5%.

MERCADO

Boa parte do mercado também crê que o BC deva subir a taxa de juros em 0,50 ponto percentual na quarta, diante das últimas declarações do presidente da instituição, Alexandre Tombini.

Ele tem dito que o BC "continuará vigilante" e que os esforços da política monetária "ainda não se mostram suficientes" para levar a inflação ao centro da meta no final de 2016. Por isso, a decisão desta semana precisa, segundo técnicos, "ancorar" as expectativas para esse objetivo.

Em relação à expectativa do governo de queda na taxa de juros no final deste ano, a avaliação da área técnica é que é preciso analisar como estará o cenário econômico no segundo semestre, principalmente em relação à política monetária dos EUA. Em setembro, o Federal Reserve (BC americano) pode voltar a subir a taxa de juros.

A última reunião do Copom em 2015 acontece nos dias 24 e 25 de novembro. Dentro do BC, o discurso é que as decisões atuais do banco já estão sendo tomadas se preparando para uma alta dos juros nos EUA.


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