Folha de S. Paulo


Em São Paulo, placas de 'aluga-se' proliferam no comércio

Quem passa pela Melo Alves, rua que tangencia o burburinho das compras no bairro paulistano dos Jardins, encontra dez imóveis comerciais com placas de aluguel em um único quarteirão.

A Oscar Freire, via que ancora o consumismo da região, tem mais uma dezena de vitrines cobertas.

Na paralela Lorena, encontram-se avisos de "alugo" em imóveis vizinhos. Algumas ainda conservam anúncios de "50% de desconto", da queima de estoque que costuma anteceder o fechamento.

Meia dúzia de portas fechadas pode ser vista na praça Vilaboim, outro endereço badalado por bares no bairro do Higienópolis.

As placas de "aluga-se" e "passo o ponto" proliferam em áreas tradicionais do varejo na capital, cenário que especialistas no setor já interpretam como resultado do esfriamento econômico.

É também o caso da Rebouças. Embora não exiba todas as placas, a avenida tem hoje 22 imóveis disponíveis para locação num trecho de menos de quatro quilômetros, segundo levantamento da Amaral d'Avila, empresa especializada em estudos de investimentos e avaliações imobiliárias.

"Os aluguéis comerciais em São Paulo subiram a um patamar alto na última década. Recentemente, as empresas locadoras vinham operando no limite do viável. Quando o faturamento baixou um pouco, não deu mais para pagar os custos", diz Celso Amaral, diretor da Amaral d'Avila.

CONCESSIONÁRIAS

O varejo de automóveis começou antes, segundo Marcos Hirai, sócio-diretor da BG&H Real Estate, especializado em expansões de redes de varejo. Desde o ano passado, o fechamento de concessionárias na avenida Sumaré já prenunciava uma tempestade que viria a alcançar outros segmentos do varejo. O aperto no crédito e a redução nas vendas já haviam começado a atingir as pequenas revendas há três anos.

Para Hirai, a correlação total entre queda no consumo e fechamento de lojas ainda não aconteceu.

"No segundo semestre, vamos perceber um pouco melhor. Acredito que, por enquanto, seja pelo fato de que, neste momento de crise, os lojistas prefiram não renovar os contratos. Não é tanto porque as vendas estavam ruins que fechou", diz Hirai, ao estimar uma tendência de baixa nos preços de aluguéis.

"Não significa que esses locais não sejam bons. É que o próprio sucesso dos últimos anos elevou os aluguéis. Agora, sufoca o varejista. Depois, os lojistas retornam porque muitos proprietários são famílias que usam o aluguel como fonte de renda e vão preferir baixar", afirma Hirai.

Ele estima que tal reacomodação de preços virá em cerca de dois anos.

FUNDO DO POÇO

"O fundo do poço vai chegar em julho. Tudo tem uma inércia, e os efeitos vêm a médio prazo. Alta de juros, aliada a aumento da inflação, com perda de renda, tudo isso ocasiona alterações fortes no mercado", afirma Amaral.

Para ele, a pressão nos preços de locação já causou achatamento de 10%, em média, em relação aos valores praticados há um ano.

"Em locais onde o fluxo e o comércio são muito intensos, como uma 25 de Março, esse impacto é muito menor. Mas o efeito da vacância é um reflexo geral", diz Amaral.

Simone Santos, diretora da Herzog, empresa do setor imobiliário, diz que já há exemplos de locadores oferecendo descontos de até 20% na assinatura dos contratos.

"No impulso de diversificar investimentos, nos últimos cinco anos, houve muito projeto mal planejado, lojas de vinho sem estacionamento, sorveterias em locais sem apelo com a atividade. Ao mesmo tempo, os proprietários pressionaram para subir os preços. Agora isso vai se ajustar", diz.


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